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TÓPICO:
Entrevista 1 17 anos 2 meses atrás #945
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Oi Adriane: > > Mande-me as perguntas que terei prazer em responde-las. > > abraços > > Sérgio Greif
Oi Adriane: Estava respondendo suas perguntas com longos textos explicativos, mas creio que seja melhor eu ser um pouco mais sintético, o que também te ajudará na hora de selecionar trechos. Aqui vai > > > - Como é a fiscalização da Anvisa (como ela direciona, fiscaliza e > pune)? > Sobre a fiscalização da ANVISA, é melhor consultá-los com uma pergunta mais específica. O órgão em que trabalho é a CETESB e tanto a atividade quanto a forma de proceder são bastante distintos > - Quais são os países que ainda adotam a prática da Vivisecção? E > os que baniram? > No momento todos os países do mundo praticam experimentação animal. Mesmo nos países onde se alega que ela está sendo regulamentada a situação dos animais não é melhor. > - A Vivisecção é usada somente na área de farmácia ou em outras? > A experimentação animal é utilizada em muitos outros ramos de pesquisa, tais como toxicologia, fisiologia, anatomia, histologia, bioquimica, pesquisas sobre desenvolvimento fetal, pesquisas comportamentais, pesquisas na área de imunologia, microbiologia, parasitologia, cirurgia experimental, testes balísticos e muitos outros. > - O camundongo é o animal mais usado em testes? Quais são os outros? > Não possuímos números exatos, mas é certo que a maioria dos testes são realizados em camundongos e ratos. Outros animais que podem também ser utilizados são invertebrados diversos, hamsters, gerbils, porquinhos-da-india, sapos/rãs, lagartos, cobras, tartarugas, pombos, galinhas, porcos, ovelhas, cães, gatos, macacos (principalmente mico de cheiro, babuinos ou chimpanzés), ferrets ou qualquer outro animal que se tenha à disposição. > > - O que é feito dos camundongos e outros animais que são testados > e mortos por reações diversas? > Por recomendação sanitária todos os animais mortos em laboratórios devem ter suas carcaças tratadas como lixo hospitalar. Não é o que se faz com eles depois que morrem o problema, o problema é o que fazem enquanto estão vivos. > - Ouvi de um militante da causa que "testes em animais não > condizem, pois, são seres vivos diferente a dos humanos. Portanto, > as reações neles são uma, e nos humanos são outra". Porque então > os animais são usados? > Muitas pessoas acreditam que o lobby do tabaco e das bebidas alcoólicas é muito poderoso, mas há um lobby ainda maior do qual estas duas indústrias também fazem parte. Do lobby da vivissecção fazem parte os governos, as indústrias farmacêuticas, as indústrias produtoras de alimentos, as indústrias de bens de consumo diversos, os fabricantes de ração, as empresas que fabricam suprimentos para laboratórios, gaiolas, equipamentos de contenção, comedouros, etc etc. Mesmo coisas óbvias como a de que os rios correm para o mar, ou que a terra é que está em órbita em torno do Sol, seriam ignoradas pela maioria das pessoas se este fosse o interesse deste lobby. O fato de que as diversas espécies animais respondem de forma diferente a determinado estímulo é óbvia, mas a maioria das pessoas tem dificuldade em entender que estas diferentes respostas apenas criam confusão quando tentamos interpretá-las e aplicá-las aos seres humanos. Esta dificuldade deriva da crença de que os cientistas estão sempre certos e de que o que está escrito em um trabalho científico não pode ser contestado. A própria base da ciência é a contestação, a não aceitação de paradigmas. Se fosse para escolhermos uma carreira onde houvessem dogmas, deveríamos ter optado pela teologia, e não pela ciência. > - Quais são os métodos alternativos existentes hoje para testes > farmacológicos? > Para testes farmacológicos há uma ampla gama de testes que podem ser realizados sem a utilização de organismos vivos e sencientes. Por exemplo, pode-se primeiramente tentar prever qual será a atuação da molécula no organismo através de um programa computacional que permite comparar a estrutura molecular do composto com uma gama de compostos conhecidos e tentar verificar com quais sitios de ligação esta molécula poderá se ligar. Programas também permitem tentar aferir a atuação da molécula no organismo. Pode-se submeter o composto a uma bateria de testes de toxicidade in vitro que permitam saber qual seria sua citotoxicidade, bem como a toxicidade do composto aos diversos órgãos. Poderia-se interagir linhagens celulares em frascos de co-cultura, de forma a se obter resultados de sua toxicidade após, por exemplo, uma transformação hepática. Constatada sua não toxicidade, poderiam-se começar os testes farmacológicos, com primeiramente com um pequeno grupo de humanos voluntários, em seguida com um número maior de voluntários, e depois com um pequeno número de pacientes reais. Isto que te falei é apenas um exemplo, poderiam se criar outros protocolos experimentais mais complexos. > - O que é o termo "cruelty-free"? > "Cruelty-free" significa livre de crueldade. É considerado livre de crueldade qualquer bem ou serviço que não tenha sido produzido às custas da exploração animal, daí entenda-se que na formulação do produto não pode haver derivados de animais e que o produto não pode ter sido testado em animais. Serviços cruelty-free também não podem utilizar animais de forma alguma. > > - O que as Academias de Farmácia e Biologia pensam a respeito? > As universidades fazem parte do lobby e o defendem. Fazer parte do lobby não significa uma atividade imoral ou proposital, o lobby existe para defender seus interesses, e a universidade tem interesse em que a experimentação animal continue existindo porque muitas linhas de pesquisa na área de biomédicas fazem uso de animais e muito do financiamento para pesquisas provém de indústrias que lucram com a exploração animal. Mas quando conversamos com calma com os professores, reservadamente, muitos reconhecem que da forma como é realizado não está correto. Esta sensação de que algo está errado e precisa mudar criou a necessidade de uma reforma na experimentação animal, e uma mudança de discurso. Assim, é comum que pessoas que tem interesse na continuidade da experimentação animal defendam que gostam de animais, que os respeitam, e que procuram tratá-los de forma ética, que tentam reduzir o número de animais que "precisam" ser utilizados e que o dia que puderem, certamente substituirão os animais, mas que este dia nunca vai chegar. Este discurso é ainda pior do que o anterior, porque muita gente passa a acreditar que de fato está falando a verdade, e muita gente que acha estar protegendo animais começa a se interessar por fazer parte de comissões de ética. > - Se existe a lei que proibe maus-tratos com os animais, porque é > permitido o uso de camundongos nas universidades? > Não apenas camundongos, mas toda uma variedade de animais. Esta é uma boa pergunta. A resposta é que as leis, da forma como estão elaboradas, não servem para proteger animais. Note, por exemplo, que a lei proíbe maus-tratos, mas não os define. Pelo contrário, em muitos artigos ela apoia que mau tratemos animais de forma institucionalizada. A lei de crimes ambientais, por exemplo, permite que se faça de tudo com os animais (matar, experimentar neles, etc) desde que autorizado pelo órgão competente . O artigo que trata da experimentação animal diz : *"Art. 32.* Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. " Ora, basta a pessoa dizer que as experiências conduzidas não eram cruéis nem dolorosas, ninguém pode provar que eram porque não existe uma máquina que diga o que é a dor dos outros. O artigo também condiciona a experimentação animal à inexistência de recursos alternativos. Os recursos alternativos já existem, eles apenas não são reconhecidos porque precisam ser validados comparando-se seus dados com o de experimentos realizados em animais ( que como vimos não são válidos). Este é o tipo de armadilha que as pessoas que defendem animais caíram achando que estavam fazendo bom negócio. > - Como mudar uma sociedade que vê os animais como inferiores aos > homens? > Da mesma forma que combatemos o racismo ou o sexismo, através da educação e do bom exemplo. Quando tornamos nossas vidas testemunhos de que é possível viver sem explorar animais, quando nos empenhamos em explicar às pessoas que os animais são seres sencientes e que isto por si só é razão suficiente para respeitemos seus direitos básicos, fazemos com que um pouco da sociedade se transforme. Isto não necessariamente implica em protestos ou na constituição de um a ONG para lutar por este fim, ou ficar criando caso aqui e ali. Esta é uma reforma que começará de baixo e cada indivíduo terá seu papel. > - (Uma pergunta que pode parecer infantil, mas preciso de uma boa > resposta....) Qual a diferença entre matar animais para comer e > matar animais para experiências? > Não há diferença alguma entre matar animais para comer e matá-los em experimentos (esta não é uma pergunta infantil, pelo menos muitos adultos já me fizeram). A diferença está na cabeça das pessoas que se indignam com o fato de um cão ser aberto em uma aula de fisiologia mas não se sentem indignadas em comer carne. É natural do ser humano só enxergar o problema nos outros e talvez esta seja a melhor resposta, porque é mais fácil a pessoa parar de comer carne do que fazer com que uma universidade pare de matar animais em experimentos, mas a pessoa opta por fazer o que é mais difícil porque o mais fácil representaria uma mudança pessoal e quem está errado são os outros. > - Em nível global, é possível pensar num mundo vegetariano? > (Lembrando que para a fome na África, estão oferecendo os > transgênicos - Qual tua opinião sobre isso?) > Não sei se entendi a parte dos transgênicos, mas tentarei responder sua pergunta: O vegetarianismo é uma solução para o problema da fome no mundo (a outra solução seria um cataclisma mundial que reduzisse drasticamente a população). Recomendo que você leia este artigo www.svb.org.br/depmeioambiente/VegetarianismoeCombateaFome.htm Os transgênicos não seriam a solução, porque eles criariam um aumento substancial da oferta em um primeiro momento (o que não significa boa distribuição de alimentos), inviabilizariam a produção de produtos não transgênicos e se estabeleceriam como monopólio. Não entrarei aqui nas questões ambientais e de saúde porque esta parte da discussão é muito polêmica. Se eu puder receber uma cópia da revista agradeço abraços Sérgio |
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