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Manifestação da PETA
em São Paulo: ativistas locais ajudam a fazer a diferença
para as ovelhas australianas
por George Guimarães
No dia 18 de julho de 2005 aconteceu a manifestação
da organização americana PETA (People for the Ethical
Treatment of Animals), em parceria com a SVB-SP (Sociedade Vegetariana
Brasileira em São Paulo) contra o uso de lã australiana
em frente à loja da Benetton da Alameda Lorena, em São
Paulo. Segue abaixo um relato sobre o andamento da manifestação.
Para saber mais sobre o tema do protesto, acesse www.nutriveg.com.br/petawool.htm .
Conforme combinado, pontualmente às 12:00, tudo estava organizado
para o protesto. Em plena segunda-feira, cerca de 70 ativistas munidos
de faixas, cartazes muita disposição uniram-se em protesto
na calçada em frente à loja. Alguns militantes de diversos
grupos, outros indivíduos independentes, todos estavam lá por
uma só causa: protestar contra a exploração
e tortura de animais inocentes. Muitos transeuntes desprevenidos
uniram-se à manifestação, mostrando que quando é oferecida
a oportunidade de serem sensibilizados, muitos empatizam com o tema
do sofrimento animal.
O protesto foi abrilhantado graças à performance corajosa
de cinco ativistas que se dispuseram a despir e pintar os seus corpos
para denunciar a crueldade infligida àqueles que são
torturados e explorados para servir de vestimenta à nossa
espécie. Junto com os outros presentes, eles deram voz a esses
que não podem protestar com a sua própria. Descalços,
seminus, pintados e evidentemente irados, por mais de uma hora eles
gritaram.
Houve grande comparecimento da mídia e poucas horas mais
tarde as fotos da manifestação já estavam publicadas
em grandes portais noticiários da internet. No dia seguinte,
as fotos publicadas também em mídias impressas de circulação
nacional, além dos bancos de fotografias de agências
internacionais como a AFP PHOTO, ajudaram a dar mais volume a essas
vozes. Também foram muitos os fotógrafos amadores que
fizeram circular por comunicação eletrônica as
suas fotos, com destaque sempre aos cinco corajosos: quatro do nosso
grupo de São Paulo, acompanhados de uma ativista italiana
da PETA que havia chegado ao Brasil no dia anterior, acompanhando
a turnê mundial.
A responsável pela turnê é a australiana Jodi
Ruckley, coordenadora de campanhas da PETA na Europa. Ela chegou
a São Paulo no mesmo dia da manifestação e já no
dia seguinte partiu para dar continuidade à turnê em
outros países da América do Sul, seguidos pelas cidades
de São Francisco (EUA) e Tóquio. É justamente
devido a essa dinâmica acelerada na turnê mundial que
a PETA buscou parceiros locais para auxiliar na organização.
Aqui em São Paulo, quem se dispôs foi a Sociedade Vegetariana
Brasileira em São Paulo, grupo que eu tenho a felicidade de
coordenar. Segundo a Jodi, de toda a turnê mundial até a
data, a de São Paulo foi a mais enérgica e criativa.
Em seguida à manifestação, houve um almoço
e posteriormente um jantar, ambos com o propósito de confraternização
entre os ativistas locais e os visitantes, além da celebração
do aniversário da nossa visitante australiana.
Para que a manifestação fosse bem sucedida, foi necessária
a dedicação incondicional de muitas pessoas. No intuito
de contribuir com aqueles que também desejam engajar-se no
ativismo e, como nós, não contam com muita experiência
nessa atividade, compartilho a seguir um breve relato que descreve
o desenrolar da organização e produção
da manifestação.
Diferentemente de outras manifestações que já organizamos,
esta estava demasiadamente tranqüila: a nossa parceira estrangeira
enviaria os panfletos, cartazes e a fantasia (o plano inicial envolvia
uma fantasia de ovelhas). A nós, cabia apenas divulgar o protesto
para o público e imprensa, além de tratar de alguns
detalhes, coordenando as atividades com o escritório da PETA
na Inglaterra. Apesar de trabalhoso, o andamento estava relativamente
tranqüilo.
No sábado, às 22 horas (38 horas antes da manifestação),
a Jodi, coordenadora de campanhas da PETA na Europa, me telefonou
do aeroporto informando que havia perdido uma conexão e não
chegaria ao Brasil com um dia de antecedência conforme programado.
Já a sua colega italiana manteria a programação
inicial e chegaria no domingo pela manhã. Essa ocorrência
não afetava a organização propriamente dita,
mas junto a essa notícia também fui informado de que
a fantasia de ovelha, destinada à performance inicialmente
programada, possivelmente não chegaria ao Brasil em tempo,
mas ainda poderíamos contar com os panfletos e cartazes que
estavam em sua posse. Felizmente, muitos dos ativistas do grupo estávamos
reunidos no Jantar Junk Food Vegano, evento do Calendário
Vegano de São Paulo, e rapidamente traçamos uma alternativa
caso a vestimenta realmente não chegasse. Foi aí que
decidimos pela performance desnuda, já contando com três
voluntários.
Na segunda-feira (dia da manifestação que ocorreria
ao meio-dia), a Jodi me telefona do aeroporto às 7h30 para
avisar que as malas haviam sido extraviadas e portanto não
mais dispúnhamos dos panfletos que esperávamos, nem
tampouco da tinta apropriada para a pintura dos corpos que ela traria.
Na mesma ligação, recebi dela ainda a confirmação
que ela acabara de receber do escritório em Londres de que
a fantasia de ovelha ainda estava em trânsito com a empresa
transportadora e também não chegaria. Nesse momento
ficou determinado que, caso desejássemos dar continuidade à organização
da manifestação, deveríamos: redigir e enviar
um novo release à imprensa, notificando a alteração
na performance; produzir e imprimir novos panfletos; adquirir cartolinas
e tinta para produzir cartazes em português (os que ela trazia
na mão e não extraviaram com a bagagem eram em língua
estrangeira, a exceção de três unidades); pesquisar
e adquirir a tinta apropriada para a pintura dos corpos; encontrar
um espaço apropriado para a aplicação da tinta;
e conseguir um meio de transporte para que os ativistas já pintados
e seminus chegassem ao local da manifestação. Nada
impossível, a não ser pelo fato de que tínhamos
apenas quatro horas para executar todas essas tarefas não
programadas.
A sugestão da Jodi, ainda no aeroporto, foi de que adiássemos
o protesto para o dia seguinte, julgando ser impossível realizarmos
tal façanha. Mas ela não conhecia o grupo que estava
disposto a fazer do protesto um sucesso, apesar das dificuldades
que se apresentavam. Mas eu conhecia. Sabendo que haveria muitas
pessoas no local e que essas não poderiam ser informadas sobre
a alteração de data em tempo hábil, disse a
ela que seguiríamos em frente com o plano, pois eu conheço
bem o meu time de voluntários e sabia que poderia contar com
eles – apesar de não estar certo sobre quantos estariam
acordados ou disponíveis para as tarefas que nem para mim
estavam muito claras numa segunda-feira cedo pela manhã. Enquanto
a racionalização me dizia que a resolução
dessas tarefas em tão pouco tempo era pouco provável,
foi a certeza de estarmos nos pronunciando em nome da verdade e da
justiça que me deu a segurança de que conseguiríamos
transpor todas essas barreiras.
Enquanto a nossa jornalista redigia e expedia
um novo release para a imprensa, uma dupla formada por pessoas
recentemente engajadas em nosso grupo tratou de pesquisar e adquirir
as tintas para a pintura dos corpos e o material para confeccionar
os cartazes. Depois de alguns outros telefonemas, conseguimos três novos ativistas
dispostos a tirar a roupa, totalizando (depois de outro ter desistido
nesse meio tempo) os cinco de que precisávamos. O restaurante
vegetariano VEGETHUS, em horário de plena produção
para o almoço, prontamente cedeu o espaço de concentração
do grupo para reunir, pintar os corpos (e posteriormente lavar),
confeccionar os cartazes e ajustar os últimos detalhes. Um
dos desnudos (nosso especialista em diagramação) ainda
teve que despender alguns minutos improvisando um panfleto, que foi
levado à copiadora a tempo por um funcionário do restaurante.
A Jodi, agora conosco, fazia os últimos telefonemas para as
agências de notícia de língua inglesa para certificar-se
de que eles estariam presentes enquanto eu fazia o mesmo com outros
contatos.
Faltando apenas trinta minutos para sairmos
em direção
ao local do protesto, a tinta finalmente chegou e começamos
a pintura. Depois de quatro horas consecutivas ao telefone, o último
detalhe, o do transporte, havia sido resolvido. Em meio a olhares
intrigados de clientes, os corpos coloridos e desnudos deixaram o
local felizes, com a certeza de que a missão seria cumprida à altura
de nossa dedicação.
O resto da história está nas fotos e em tudo o que
foi visto e experimentado por todos os presentes. Os ativistas de
São Paulo estão felizes com a realização
e aprendizado proporcionados por mais essa experiência. Sempre
soubemos do quanto estamos dispostos a fazer e, mais do que nunca,
estamos mais seguros daquilo que podemos fazer. Estamos mais maduros
e prontos para novas realizações.
No dia 9 de agosto, recebi pela manhã a notícia da
PETA: depois de um ano de manifestações e campanhas,
um acordo histórico foi assinado entre a associação
australiana de criadores de ovelhas e a PETA! Esse acordo, se ratificado
pelos fazendeiros, estabelecerá que a cruel prática
do mulesing deverá ser terminada até 2010 e as exportações
de ovelhas vivas para o Oriente Médio também deverão
ter um fim ou então passarem a ser feitas em concordância
com as leis de bem-estar aplicadas a animais domésticos. Nessa
ocasião, a PETA declara uma moratória de 45 dias nas
campanhas e manifestações, prazo para que os fazendeiros
australianos pronunciem-se em definitivo.
Graças às ações coordenadas de ativistas
em todo o mundo, a vitória para esses animais está muito
próxima. Parabéns a todos que optaram por dedicar o
seu tempo e abrir mão do seu conforto para agir em defesa
dos animais. Suas ações contribuíram e continuarão
a contribuir para minimizar (até erradicarmos) a dor daqueles
que não têm a sorte da escolha.
Dr George Guimarães
Coordenador SVB-SP
nutriveg@terra.com.br
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