A hora e a vez do vegetarianismo

Pequenos produtores, organizados em cooperativas, mostravam orgulhosos os frutos da terra. Nenhuma cenoura gigante, nenhum tomate brilhante de agrotóxico, nada de produção em escala industrial. Se no mundo orgânico não pesa a quantidade, valem a qualidade e a variedade. A feira apresentou café, biscoitos, geléias, temperos, vinhos, sucos e tantas farinhas e cereais que dava para fazer a compra do mês.
Num estande de produtos da Amazônia, seu Virgilio Ramos foi uma das principais atrações ao mostrar como os índios raspam e armazenam o guaraná. Mais energia do que nesse fruto, só mesmo na castanha do Pará distribuída aos visitantes da feira. "A castanha é orgânica por natureza, mas o certificado garante aos castanheiros uma remuneração digna. É ela também que garante a não derrubada da castanheira", disse o amazonense, dando a devida valorização ao produto orgânico. Ou seja, além de mais saudável - como a dieta vegetariana -, o orgânico é também mais ético.
Para apoiar o crescimento desse mercado, o Ministério da Agricultura distribuiu a cartilha "O Olho do Consumidor", onde se divulga o selo do Sisorg (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica). Esse selo é importantíssimo, pois pretende padronizar, identificar e valorizar produtos orgânicos, orientando o consumidor. Com ilustrações do Ziraldo, a cartilha é simples e merece ser divulgada:
http://www.aba-agroecologia.org.br/aba2/images/pdf/cartilha_ziraldo.pdf
No auditório do pavilhão da Bienal, a SVB promoveu o 2o Seminário Alimentação Ética, Saudável e Sustentável. Um público atento, predominantemente feminino, ouviu desde experiências pessoais, como a fala de Dagomir Marquesi "as aventuras de um vegetariano no país do churrasco", até dados alarmantes sobre o impacto da pecuária na Amazônia, durante a palestra do diretor do Instituto Peabiru, João Meirelles. O ambientalista, que foi um dos primeiros a alertar para a relação entre pecuária e desmatamento, deu ênfase ao termo "restauração da Amazônia", visto que preservar agora é pouco.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, a pecuária é responsável por 18% das emissões de gás a nível global. O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e de soja (produzida para alimentar gado confinado), que levam ao aumento das emissões de gás e à degradação dos solos, água e ar, desertificação e deflorestação. A floresta está virando capim e soja: "o boi devora a Amazônia", estampou em manchete o jornal francês Libération, "passar um dia da semana sem carne é a mudança mais importante que cada um pode fazer, pois atinge, de uma só vez, o cerne dos problemas políticos, éticos, ambientais e sociais. É também uma mudança que afeta não apenas as mudanças climáticas como também melhora a saúde, provê tratamento mais ético aos animais, combate a fome global e colabora com o ativismo político e comunitário", diz o ex-Beatle Paul McCartney (site oficial da campanha Meat Free Day, www.supportmfm.org.)
A cidade de São Paulo espelhou-se nesta iniciativa dos ingleses e está atenta à campanha semelhante que se deu em Ghent, na Bélgica. Assim, qualquer redução do consumo de carne trará benefício para o ambiente. "É difícil avaliar todos os conselhos que recebemos sobre como contribuir significativamente para um mundo mais limpo, mais sustentável e mais saudável.
O ponto alto do Salão foi o comunicado do lançamento da campanha Segunda Sem Carne na cidade de São Paulo. Uma parceria entre a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e a SVB visa estimular o consumo consciente e incentivar o paulistano a não comer nenhum tipo de carne às segundas-feiras. Eduardo Jorge, responsável pela Secretaria, chegou ao Ibirapuera de bicicleta e apresentou dados emblemáticos: a cidade de São Paulo produz 15 milhões de toneladas de lixo por ano, o que colabora consideravelmente para a quantidade de emissões de carbono per capita. Mesmo assim, o paulista emite 1,47 das emissões per capita, enquanto o brasileiro emite 8,20.
O motivo dessa discrepância? As queimadas na Amazônia, os gigantescos rebanhos e a produção de soja para alimentar animais confinados. Ou seja, reduzir o consumo de carne é a forma mais eficiente de frear o aquecimento global. "Ao mesmo tempo em que chamamos a atenção para as questões éticas, ambientais e de saúde, estimularemos a descoberta de outros sabores, a valorização da variedade no paladar e de uma vida mais saudável e sustentável", afirma Marly Winckler, presidente da SVB. A campanha Segunda sem Carne será apresentada durante a Semana Vegetariana, no inicio de outubro, na marquise do Ibirapuera. São Lourenço da Serra, também no estado de São Paulo, foi o primeiro município a aderir à campanha: o prefeito Lener Ribeiro estava no comunicado do lançamento da campanha e mostrou otimismo e vontade de trabalhar em parceria.
Texto e fotos Raquel Ribeiro
Fonte: www.plurale.com.br
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