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Cultura sem Valor

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É sabido e muito debatido que os valores culturais são a base do modo de vida de um povo. Porém, apesar de arraigados são passíveis de alteração. Pode demandar tempo, esforço e conhecimento, mas é possível. As contingências do mundo atual, em grande maioria, infelizmente e ainda, sustentam a exploração de outros animais. Todavia isto está sendo transformado significativamente, em larga escala e numa velocidade surpreendente; seja por uma despertar de consciência no qual o humano sente e compreende que a barbárie para com os outros animais é a mesma da praticada para com "os seus" e que não constrói, apenas aniquila, seja por necessidade de sobrevivência neste planeta já tão doente. A segunda motivação é lastimável mas de toda sorte, creiam, as mudanças estão Penso que os valores de uma civilização devem se respeitados na medida em que edifiquem. Neste momento então, surge a questão: e qual será então o referencial para determinar quais costumes serão valorizados e desse modo mantidos e os que não? E quem fará isso? De fato, as verdades são bem relativas mas, olhando um pouco para fora de si, torna-se quase inevitável perceber que causar sofrimento (por meio da escravização, exploração, morte e etc.) a um outro ser vivo, especialmente os demais animais (digo especialmente devido às suas inegáveis paridades emocionais, fisiológicas... para com o humano) que estão à nossa volta é perverso, constrangedor, equivocado, intransigente. Promovem uma consternação desnecessária, haja vista que a favor desta barbárie do consumo de produtos elaborados a partir de substâncias de origem animal, estão apenas o mito ainda sustentado por interesses sociais, econômicos e científicos estreitos e equivocados de grupos humanos.  

Desse modo, aspectos culturais como os que se evidenciam na China, com a morte torturante de tantos e tantos animais, seja “em prol da alimentação humana” ou “em prol” da ridícula e cruel vaidade (des)humana; no Japão, que trucida baleias e golfinhos a fim de manter o consumo de uma “iguaria gastronômica”; no Canadá que extermina barbaramente focas argumentando um controle populacional; no Brasil e nos EUA com a morte de centenas de bois e galinhas cujas carnes chegam aos nossos pratos (para ficar apenas alguns exemplos) não podem continuar adquirindo o status e a justificação da manifestação de um valor cultural, uma tradição. Tais práticas escondem e maqueiam uma crueldade etnocêntrica (e especista) tão criticada e provocadora de tantas mazelas na historia deste planeta.  

Nunca será lugar comum repetir que o homem não necessita de quaisquer alimentos e demais produtos que sejam de origem e ou que contenham elementos de origem animal. Cultura da dor, da exploração, da tortura e da morte, não mais! Não é humana, não é animal, não é ambiental, não é divina (para quem considera tal concepção), não está de acordo com o equilíbrio da vida. A construção de uma nova realidade de consideração e co-vivência já está sendo elaborada, praticada e multiplicada, se fortalecendo a passos largos. Cabe a todos esta reflexão e primordialmente, esta ação. É incumbência de todos, dentro de suas possibilidades, a implementação de um novo paradigma do Viver. Formas de existir em comunhão e respeito a todas as formas de vida. Evidentemente que não se trata de uma utopia baseada na não agressão integral ao ambiente no qual estamos inseridos. Até então, toda e qualquer ação humana (e de outros animais também, embora a nossa muito mais) provoca impactos ambientais. Contudo, isso não é motivo para a desistência. Que pesquisemos, que façamos o que está ao alcance e que alarguemos esse limite, interferindo minimamente na dinâmica ambiental do planeta.  

E como se muda uma cultura? Civilizações se estruturam basicamente por meio das relações entre seres. E nestas, há linguagem, há sinais, há comportamentos que existem por algum motivo. Que persistem por que outros (comportamentos e pessoas) sustentam, valorizam e “aplaudem” os mesmos. Assim sendo, manifestações públicas, esclarecimentos, estudos sócio-históricos, científicos, manifestações artísticas, num contexto de não valorização de toda a sorte de barbaridades contra os animais, constituem instrumentos de mudança altamente efetivos.  

Exemplificando de modo mais específico, a cada momento em que você esclarece alguém que questiona seus hábitos alimentares vegetarianos/veganos, em cada instante no qual você opta por não comer carne num estabelecimento, num almoço em família, você está dizendo não à violência e abrindo espaço para um novo modo de vida. De modo similar, nas ocasiões nas quais um respeitado e sério profissional/pesquisador/cientista da área de saúde por exemplo vem a público afirma re explicar a não necessidade de se matar animais para o consumo por meio da alimentação, tão pouco da não precisão do consumo de outros produtos de origem animal, estão também eles trilhando e deixando trilhar novas formas de ver e perceber. Ainda, igualmente, na medida em que um político constrói e luta pela regulamentação de leis que protejam os animais contra maus tratos, está ele, com seu exemplo e iniciativa apontando para outros lados. Enfim, uma cultura se altera com atitudes, com discussões, com exemplos, com os riscos de se pensar, sentir e fazer diferente. E todos nós somos estes agentes culturais.  

Uma questão que não se pode perder de vista é que transformações culturais podem demandar tempo e o tempo, sabemos, muitas vezes responde pelo desânimo. Não sejamos portanto imediatistas. Planejemos o futuro, agora, no presente, e não nos esqueçamos da força de nossos atos, pensamentos, sentimentos para com nós mesmos, para os outros seres que vivem conosco e para este grande organismo vivo que é o planeta Terra em meio ao mega espaço universal que ainda pouco conhecemos. Esta proposta reflexiva e ativa, não é divagação filosófica, é sim atitude paciente, é verdade, vigorosa e persistente.  

 
Por Paullo Phirmo
paullophirmo.blogspot.com

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