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Para Entender a Ética Pragmática das Entidades Animalistas
Carlos Naconecy Filósofo, Oxford Centre for Animal Ethics Começo recapitulando a história da abordagem pragmática em Ética Animal. Quem pensa que o pragmatismo animalista é algo muito recente, engana-se. O termo já apareceu na obra The Animal Rights Crusade, de J.M. Jasper e D. Nelkin, publicada em 1992. Essa concepção foi desenvolvida filosoficamente pelo canadense David Sztybel em 2007. Em 2010, incumbi-me da tarefa de introduzir no Brasil as críticas de Sztybel ao que ele chama de “abolicionismo fundamentalista”. Em 2017, a abordagem pragmática foi explicitada no livro do ativista belga Tobias Leenaert, intitulado How to Create a Vegan World: A Pragmatic Approach. Primeiramente, há que se enquadrar as posições concorrentes e rivais nesse debate. No Brasil e em outros países, o movimento de defesa animal está dividido em três posições: 1 - “Bem-Estarismo”, que aceita o uso humano de animais, desde que eles sejam tratados humanitariamente, o que significa que se evite, na medida do possível, seu sofrimento desnecessário. O foco dessa corrente é a implementação de regulamentações, leis ou políticas públicas que, pelo menos, reduzam o sofrimento animal provocado pelos seres humanos nas suas várias áreas. 2 - “Abolicionismo” (ou “Direitos dos Animais”), que entende que nosso uso de animais não é moralmente justificado e que, portanto, deve ser abolido. 3 - “Pragmatismo”, que defende a redução do máximo de sofrimento e morte animal, o mais rápido possível, enquanto não houver a possibilidade de libertar todos eles da escravidão, que é o que se deseja como resultado final. Esta posição será chamada aqui de “Abolicionismo Pragmático”, ideologia esta que move aqueles que, como irei mostrar a seguir, fazem um ativismo animalista visando alto impacto. Exemplos típicos de ativismo pragmático, objetivando ações de alto impacto, seriam as campanhas em prol (1) da redução de consumo de carne (como a “Segunda sem P á g i n a | 2 Carne”) e (2) do aumento do bem-estar animal nas fazendas de pecuária (como a que promove a criação de galinhas em galpões, em vez da criação em gaiolas). A primeira delas, a campanha Segunda Sem Carne, no Brasil, por exemplo, tem como resultado a redução do consumo de 93 toneladas de carne por mês nas escolas públicas de São Paulo.* Se considerarmos apenas galinhas atingidas por essa campanha, isso equivaleria a deixar de criar e matar cerca de 50 mil animais. O ponto crucial nessa discussão é notar que tanto a abordagem reducionista (pela redução da quantidade de sofrimento e mortes) quanto a bem-estarista (pela melhoria das condições de uso de animais) podem estar de acordo com a ideologia abolicionista. Por quê? Porque, independentemente de estratégias de ação, deve ser chamada de abolicionista toda e qualquer entidade ou pessoa que almeje, como fim último, a abolição do uso de animais como meros instrumentos para as finalidades humanas. Meu objetivo aqui é, ao explicar o pragmatismo animalista, mostrar a diferença dessa abordagem com a que chamarei de “Abolicionismo Ingênuo” (ou também “Abolicionismo Salto de Vara” ou “Abolicionismo Imediatista”). Para tanto, veremos sete pontos críticos que envolvem o pragmatismo na causa animal. Espero que, ao final, você entenda porque várias entidades nacionais e internacionais adotam uma ética pragmática como guia de orientação para sua prática ativista.