A ‘voz’ do meio ambiente
O cenário? Nada de grandes teatros, cadeiras confortáveis e ar condicionado. O público? O engraxate, a dona de casa, o gerente do banco, o médico e o advogado. Ele caminha pela rua, de repente pára, abre a mochila e começa a se preparar. Minutos depois as pessoas O outro cenário, que incentiva o trabalho ambiental em forma de arte, é o da discussão sobre as bases da preservação do meio ambiente para garantir a sustentabilidade. A questão ambiental é uma questão sócio-cultural. É o que pensa o mímico Everton Ferre, artista que se preocupa em fazer da arte um instrumento para educação. Ele dedica seu tempo à educação ambiental há 20 anos. O paranaense de Curitiba hoje vive na cidade de Medianeira, região com 40 mil habitantes no interior do estado, e viaja o Brasil e o mundo fazendo mímica ambiental para um público diversificado. Como ele mesmo diz: “desde que esteja respirando é público”. Durante algum tempo Everton sentia que seu público alvo eram crianças, mas acabou se encantando com cada faixa etária e social que encontrava.
Em uma conversa de aproximadamente duas horas, o mímico mostrou ser também um artista falante, otimista e que acredita num futuro melhor. Everton estudou mímica por dois anos em Lima, no Peru, e sempre se apresentou fora dos teatros. Mas foi no oeste do Paraná que surgiu a idéia da mímica direcionada para a educação ambiental. A luta contra a reabertura da Estrada do Colono, que liga os municípios de Serranópolis do Iguaçu e Capanema, cortando o Parque Nacional do Iguaçu no oeste do Paraná, foi o ponto de partida para o trabalho. Por ser uma região de intensos conflitos entre os produtores rurais e ambientalistas, a arte teve um papel fundamental na conscientização da população local. “Esse é um trabalho em longo prazo. Tenho percebido que as crianças que me assistiram quando eram pequenas, e hoje já cresceram, estão mais decididas. Meu trabalho está dando resultados positivos. Lá também mostro o uso indevido de defensivos agrícolas, a importância de equipamentos de segurança, a influência da irrigação em uma lavoura próxima de um rio. Mostro a importância da mata ciliar e da coleta seletiva.”
Em áreas urbanas, nas grandes cidades, Everton estabelece um elo entre o meio ambiente e a questão social. A agricultura orgânica é um dos temas do mímico. “Nós da cidade temos o poder de compra, de consumo e a gente pode limitar a depredação lá no campo mesmo não estando lá. Trabalho no incentivo ao uso do alimento orgânico para as pessoas olharem as embalagens e optarem pelo saudável e ambientalmente correto”.
Durante boa parte de 2004, Everton trabalhou nas ruas de Curitiba. Também fez apresentações em hospitais, escolas, associações e igrejas. De março a novembro, atingiu um público de mais de 100 mil pessoas. Você deve estar pensando: como ele sobrevive? Apoios ou leis de incentivo à cultura? Não. “Muitas pessoas perdem muito tempo na fila para pedir dinheiro para órgãos oficiais e acabam esquecendo que são artistas, operários. Eles passam a acreditar que o único mecanismo para chegar ao público é ter alguém subsidiando. Quem sabe o valor do trabalho, paga por ele. Todo trabalho tem um custo.” Ele faz questão de dizer que o público da rua é sua fonte de renda. “Tudo o que como, bebo, visto e que gasto para me deslocar, passa pelo meu chapéu há 21 anos.” Ele utiliza a arte como instrumento de educação. “O artista é peça fundamental na educação deste país. No meu trabalho, as pessoas simpatizam com a forma estética da arte, ficam num estado de contemplação e a informação vai direto para o coração. Isso não tem quem tire. É fácil colocar, mas para tirar é difícil”.
Fonte: Ecoterra
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