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Jane Goodall: A Revolucionária que Redefiniu a Relação Entre Humanos e Animais

jane goodall novinha

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A morte de Dame Jane Goodall em 1º de outubro de 2025, aos 91 anos, marcou o fim de uma das trajetórias mais extraordinárias da ciência e do ativismo ambiental do século XX e XXI. Mais que uma primatologista pioneira, Goodall tornou-se um símbolo global da compaixão animal e uma das vozes mais influentes do movimento vegano mundial, transformando não apenas nossa compreensão científica sobre os chimpanzés, mas também nossa percepção ética sobre todos os seres sencientes. 

Uma Jornada que Começou com um Sonho de Criança

Valerie Jane Morris-Goodall nasceu em 3 de abril de 1934, em Hampstead, Londres, filha de Mortimer Herbert Morris-Goodall e Margaret Myfanwe Joseph. Desde a infância, Jane demonstrava uma paixão extraordinária pelos animais. Aos quatro anos, passou horas observando uma galinha para descobrir como ela colocava ovos, uma curiosidade que sua mãe, Vanne, encorajou ao invés de repreender. Esta experiência precoce revelou não apenas sua fascinação pela natureza, mas também o método observacional que mais tarde revolucionaria a primatologia.

Aos dez anos, após ler "Tarzan" e "Dr. Dolittle", Jane declarou seu sonho de viver na África com animais selvagens. Em uma época em que tais ambições eram consideradas impossíveis para uma menina, sua mãe a apoiou com palavras que se tornaram proféticas: "Se você realmente quer isso, terá que trabalhar muito duro. Aproveite cada oportunidade. E se você não desistir, talvez você encontre uma maneira". 

O Início de uma Revolução Científica

jane goodall novinha 2Em 1957, aos 23 anos, Jane finalmente chegou ao Quênia, onde conheceu o paleoantropólogo Louis Leakey. Leakey, acreditando que o estudo dos grandes primatas poderia revelar segredos sobre o comportamento dos primeiros hominídeos, enviou a jovem Jane para o que se tornaria o Parque Nacional de Gombe Stream, na Tanzânia, em 14 de julho de 1960. 

Sem formação universitária formal, Jane revolucionou a metodologia científica ao dar nomes aos chimpanzés ao invés de números, reconhecendo suas personalidades individuais e estabelecendo vínculos emocionais com os animais que estudava. Esta abordagem, inicialmente criticada pela comunidade científica como "não científica", provou ser fundamental para suas descobertas extraordinárias. 

Descobertas que Redefiniram a Humanidade

jane goodall novinha 3As observações de Jane em Gombe mudaram para sempre nossa compreensão sobre os chimpanzés e, por extensão, sobre nós mesmos. Ela documentou que os chimpanzés fabricavam e usavam ferramentas, algo considerado exclusivamente humano até então. A descoberta de David Greybeard modificando hastes de grama para "pescar" cupins levou Louis Leakey a declarar: "Devemos agora redefinir o ser humano, redefinir ferramenta, ou aceitar os chimpanzés como seres humanos!". 

Além disso, Jane revelou que os chimpanzés possuem emoções complexas, personalidades distintas, vínculos familiares profundos e uma estrutura social sofisticada. Ela observou momentos de alegria, tristeza, luto, compassão e até comportamentos violentos entre diferentes grupos, mostrando que os chimpanzés eram "como nós, mas mais próximos da natureza". 

 

A Transformação Ética: Da Ciência ao Veganismo

O Momento da Epifania Alimentar

Foi durante seus estudos pioneiros com os chimpanzés que Jane Goodall teve uma revelação que mudaria não apenas sua dieta, mas sua filosofia de vida. Em 1968, há mais de 50 anos, ela tomou uma decisão que a transformaria em uma das mais importantes vozes do movimento vegano mundial. 

"Parei de comer carne há 50 anos, quando olhei a costeleta de porco em meu prato e pensei: isso representa medo, dor e morte. Feito, me tornei vegetariana instantaneamente". Esta frase, repetida em inúmeras entrevistas e artigos ao longo das décadas, tornou-se emblemática de sua transformação ética. 

Para Jane, esta decisão não foi apenas pessoal, mas resultado direto de seu trabalho científico. Ao reconhecer que os animais possuíam emoções, personalidades e capacidade de sofrimento, ela não podia mais justificar consumi-los. Como declarou: "Sou vegetariana porque, você sabe, respeito os animais. Sei que todos eles são indivíduos". 

A Evolução para o Veganismo Completo

Nas últimas décadas de sua vida, Jane deu um passo ainda mais radical, adotando uma dieta 100% à base de plantas. Ela substituiu não apenas a carne, mas também laticínios e outros produtos de origem animal por alternativas compassivas que respeitavam tanto os animais quanto o meio ambiente. 

A Filosofia da Compaixão Universal

"Devemos Ser Gentis com os Animais"

Uma das frases mais poderosas de Jane Goodall resume sua filosofia de vida: "Devemos ser gentis com os animais porque isso nos torna seres humanos melhores". Esta declaração encapsula não apenas sua ética vegana, mas sua crença fundamental de que a compaixão pelos animais é essencial para o desenvolvimento moral da humanidade. 

Jane frequentemente enfatizava que todos os animais são indivíduos com personalidades únicas, emoções e direito ao respeito. "Quando estudei em Cambridge, me falaram que só os humanos tinham personalidade. Por sorte, cresci com um cachorro e ele me ensinou o contrário", refletiu sobre como sua experiência pessoal com animais contradisse os dogmas científicos da época. 

O Impacto da Crueldade Industrial

Jane Goodall tornou-se uma crítica feroz da agricultura industrial e da exploração animal em massa. "A maioria das pessoas não percebe a indescritível crueldade sofrida pelos animais em nossas fazendas industriais. E aqueles que sabem, não se importam. As pessoas me dizem que os animais são criados para tornarem-se comida – como se isso significasse que eles não são mais seres sencientes". 

Ela constantemente denunciava a hipocrisia de pessoas que diziam amar os animais mas continuavam consumindo carne: "Outros me pedem para não falar sobre isso, porque eles 'amam os animais e são muito sensíveis' – [pedem isso] para que possam comer porcos, bois e vacas sem sentirem culpa". 


O Legado Ambiental e a Conexão com o Veganismo

A Ligação Entre Dieta e Mudanças Climáticas

jane goodall com chimpaze

Jane Goodall não via sua dieta vegana apenas como uma questão de direitos dos animais, mas como uma necessidade urgente para enfrentar a crise climática. Ela frequentemente alertava sobre o "vasto impacto" da agropecuária no meio ambiente: "E a fim de alimentar bilhões e bilhões de bois, vacas, porcos, frangos, galinhas. Mesmo que você não se importe com a crueldade, mesmo que se recuse a admitir que esses indivíduos têm sentimentos, que sentem dor e têm emoções, você tem que admitir que grandes florestas são destruídas para cultivar grãos para alimentá-los". 

Ela destacava como "quantidades enormes de água estão sendo desperdiçadas para transformar a proteína vegetal em proteína animal" e como "as grandes quantidades de combustíveis fósseis utilizados para manter toda a produção industrial de carne estão aumentando absurdamente os gases do efeito estufa". 

A Fundação do Instituto Jane Goodall e Roots & Shoots

Em 1977, Jane fundou o Instituto Jane Goodall, expandindo sua missão da pesquisa pura para a conservação e educação. O instituto trabalha não apenas na proteção dos chimpanzés, mas na promoção de uma ética de respeito por todos os animais e no desenvolvimento sustentável das comunidades. 

Em 1991, criou o programa Roots & Shoots, presente em mais de 60 países, que educa jovens sobre conservação, direitos dos animais e sustentabilidade. O programa inclui a promoção de dietas à base de plantas como parte fundamental da educação ambiental. 

 

A Voz Global do Movimento Vegano

Palestras e Ativismo Internacional

Até seus últimos anos, Jane Goodall viajava cerca de 300 dias por ano, levando sua mensagem de compaixão animal e veganismo para todo o mundo. Em suas palestras, ela consistentemente promovia a adoção de dietas à base de plantas como uma das ações mais importantes que indivíduos podem tomar pelo planeta e pelos animais. 

Durante uma palestra em São Paulo em 2023, organizada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, Jane foi questionada sobre qual mensagem inspiradora gostaria de deixar para o público. Sua resposta foi clara: ela incentivou a adoção de uma alimentação vegana, enfatizando "o papel vital dessa atitude na mitigação das mudanças climáticas e na preservação da biodiversidade", recebendo aplausos calorosos da audiência. 

Apoio a Campanhas Veganas Globais

Jane emprestou sua voz e prestígio a diversas campanhas veganas internacionais. Ela apoiou a campanha da Compassion in World Farming que pedia à Comissão Europeia para investir mais em propaganda voltada à importância de dietas à base de plantas e reduzir investimentos em anúncios que promovem produtos de origem animal. 

Também participou da campanha Stop Animal Gifting Programs, endossando que "ações de combate à fome precisam ser concentradas em vegetais, não em animais" e defendendo que é "muito melhor ajudar apoiando ou criando projetos voltados a uma alimentação à base de vegetais e métodos de irrigação sustentáveis nas comunidades". 

Frases Icônicas que Moldaram uma Geração

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"O Que Você Faz Faz Diferença"

Uma das frases mais famosas de Jane Goodall, repetida incansavelmente em suas palestras e escritos, tornou-se um mantra do ativismo vegano: "O que você faz faz diferença, e você tem que decidir que tipo de diferença você quer fazer". Esta frase encapsula perfeitamente sua filosofia de que cada escolha individual – especialmente as escolhas alimentares – tem impacto no mundo. 

"O Mínimo que Posso Fazer É Falar por Aqueles que Não Podem Falar"

Esta declaração de Jane ressoa profundamente no movimento de direitos dos animais e vegano, posicionando-a como uma porta-voz dos animais explorados e silenciados pela indústria. Ela assumiu esta responsabilidade não apenas como cientista, mas como ser humano consciente do sofrimento animal. 

"Não Há Linha Rígida Separando Humanos do Reino Animal"

Esta observação científica e filosófica de Jane fundamenta toda a ética vegana moderna. Ao demonstrar que não somos superiores aos outros animais, mas parte de um continuum evolutivo e emocional, ela forneceu a base científica para questionar nosso direito de explorar outras espécies. 

O Impacto no Movimento Vegano Global

Legitimidade Científica para a Ética Vegana

Jane Goodall forneceu algo que o movimento vegano sempre necessitou: legitimidade científica irrefutável para a senciência animal. Suas décadas de pesquisa documentaram de forma incontestável que os animais possuem emoções, personalidades, vínculos sociais e capacidade de sofrimento. Esta evidência científica tornou-se fundamental para argumentos veganos em todo o mundo. 

Ponte Entre Ambientalismo e Direitos dos Animais

Jane foi pioneira em conectar a ética animal com a crise ambiental, mostrando que a compaixão pelos animais e a proteção do planeta são inseparáveis. Esta abordagem holística influenciou uma nova geração de ativistas que veem o veganismo não apenas como uma questão de direitos dos animais, mas como uma necessidade ecológica urgente. 

Inspiração para Mulheres e Cientistas

Como uma das primeiras mulheres a alcançar reconhecimento mundial na ciência e no ativismo, Jane inspirou inúmeras mulheres a seguir carreiras científicas e ativistas. Seu exemplo mostrou que é possível combinar rigor científico com compaixão e ativismo efetivo. 

O Legado Literário e Educacional

jane goodall com criancasJane Goodall deixou uma vasta bibliografia que inclui obras fundamentais como "In the Shadow of Man" 1971 , "Through a Window" 1990) e seu último livro "O Livro da Esperança: Um Guia de Sobrevivência Para Tempos Difíceis" 2021 . Seus escritos consistentemente promovem a ética vegana e o respeito por todos os animais, influenciando milhões de leitores worldwide. 

Seus livros infantis e programas educacionais introduziram conceitos de direitos dos animais e veganismo para gerações de crianças, plantando sementes de compaixão que continuam a florescer décadas depois. 

Reconhecimentos e Honrarias

Ao longo de sua vida, Jane recebeu mais de 20 doutorados honorários e inúmeros prêmios internacionais, incluindo o Prêmio Templeton 2021 , a Medalha Stephen Hawking 2022 , e a Medalha Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos. Em 2003, foi nomeada Dame 2002. 

Estes reconhecimentos não apenas celebraram suas contribuições científicas, mas também legitimaram seu ativismo vegano e ambiental no mais alto nível internacional.

Uma Filosofia de Esperança e Ação

As Quatro Razões para a Esperança

Em seus últimos anos, Jane articulou suas "Quatro Razões para a Esperança": a capacidade extraordinária da mente humana, a resiliência da natureza, o poder dos jovens, e o espírito humano indomável. Esta filosofia sustentou seu ativismo vegano mesmo diante dos desafios aparentemente intransponíveis da exploração animal industrial. 

A Importância da Ação Individual

Jane sempre enfatizou que a esperança requer ação: "A esperança é um conceito frequentemente mal compreendido. As pessoas tendem a acreditar que ela não passa de um pensamento passivo, um desejo vão: eu tenho a esperança de que algo vai acontecer, mas não ajo para que aconteça. Na verdade, esse é o exato oposto da verdadeira esperança, que requer ação e engajamento". 

Para ela, a adoção do veganismo era uma das ações mais concretas e efetivas que indivíduos podiam tomar para criar um mundo mais compassivo e sustentável.

O Impacto Duradouro na Cultura Vegana

Mudança de Paradigma Cultural

Jane Goodall não apenas promoveu o veganismo; ela ajudou a transformar a percepção cultural sobre os animais. Ao mostrar que chimpanzés possuem emoções, personalidades e vínculos familiares, ela tornou impossível ignorar a senciência de outros animais. Esta mudança de paradigma cultural foi fundamental para o crescimento exponencial do movimento vegano nas últimas décadas. 

Linguagem de Empatia e Respeito

Sua linguagem sempre respeitosa ao falar sobre animais – referindo-se a eles como "indivíduos" com "personalidades" ao invés de "exemplares" ou "espécimes" – influenciou como ativistas veganos comunicam sobre direitos dos animais. Esta abordagem humanizante tornou-se padrão no movimento. 

Integração de Ciência e Compaixão

Jane demonstrou que não há conflito entre rigor científico e compaixão animal. Esta integração influenciou uma nova geração de cientistas-ativistas que veem sua pesquisa como inseparável de sua responsabilidade ética pelos animais. 

O Adeus de uma Revolucionária

Jane Goodall morreu em 1º de outubro de 2025, em sua casa na Califórnia, durante uma turnê de palestras nos Estados Unidos. Até seus últimos dias, ela manteve sua agenda intensa de ativismo, levando sua mensagem de compaixão animal e veganismo para audiências globais. 

Sua morte gerou uma onda de tributos de líderes mundiais, cientistas e ativistas. O Secretário Geral da ONU, António Guterres, declarou que ela deixou um "legado extraordinário para a humanidade e a natureza". Leonardo DiCaprio, Angelina Jolie, e outros celebridades prestaram homenagens à mulher que "redefiniu nossa relação com o reino animal". 

Um Legado Imortal para o Veganismo

jane goodall closeJane Goodall foi muito mais que uma primatologista pioneira; ela foi a arquiteta de uma nova consciência sobre nossa relação com os animais. Sua jornada da jovem sonhadora que queria viver com animais na África até tornar-se uma das vozes mais poderosas do movimento vegano mundial representa uma das transformações mais significativas do pensamento ético do século XX e XXI.

Sua famosa declaração – "O que você faz faz diferença, e você tem que decidir que tipo de diferença você quer fazer" – continua ecoando como um chamado à ação para milhões de pessoas ao redor do mundo. Em um planeta onde bilhões de animais sofrem diariamente na agricultura industrial, as palavras e o exemplo de Jane Goodall permanecem como um farol de esperança e um guia para um futuro mais compassivo. 

Através de sua vida extraordinária, Jane Goodall provou que é possível ser simultaneamente cientista rigorosa, ativista apaixonada e vegana convicta. Ela mostrou que o amor pelos animais e o respeito por sua senciência não são sentimentalismos, mas imperativos éticos baseados em evidência científica sólida. Seu legado continuará inspirando futuras gerações a escolher a compaixão sobre a crueldade, a sustentabilidade sobre a exploração, e a esperança sobre o desespero.

Em um mundo que muitas vezes parece perdido entre a ganância e a destruição, Jane Goodall nos lembrou que cada um de nós tem o poder de fazer a diferença. E para ela, essa diferença começava com uma escolha simples mas revolucionária: olhar para a comida em nosso prato e escolher a vida em vez da morte, a compaixão em vez da crueldade, o futuro em vez da destruição. Este é o seu legado mais poderoso e duradouro para a humanidade e para todos os animais com quem compartilhamos este planeta.


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Em memória de Dame Jane Goodall 1934 2025 , a mulher que nos ensinou que a verdadeira humanidade começa quando reconhecemos a dignidade de todos os seres sencientes.



Fontes:

Perfis e Biografias

Veganismo, Ética e Sustentabilidade

Organizações e Projetos

Legado e Impacto Global

  • Superinteressante / Gizmodo / The Conversation / Animal Equality – Reportagens sobre suas descobertas científicas e o legado para a ciência e a humanidade.

  • Agência Brasil / Money Report / Observador / Nosso Impacto – Repercussões sobre sua contribuição à conservação, ativismo e consciência planetária.

Frases e Inspirações

  • Pensador / A Mente é Maravilhosa / InovaSocial / Biologo.com.br / MarciaMensagem – Compilações de frases e pensamentos de Jane Goodall.

  • Instagram / YouTube – Vídeos e reels com homenagens e trechos de suas falas.

Publicações e Acadêmicos

  • Scielo / UDESC / UFPR / UFMG / Semanticscholar / Revistas acadêmicas – Artigos científicos sobre primatologia, ética animal e impacto cultural.

  • LivrosA Sombra do Homem, Minha Vida com os Chimpanzés e O Livro da Esperança (Companhia das Letras, Bookey).


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