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Bichos clonados para serem vendidos: essa estupidez é ética?

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Um covarde, especista e antiético processo está começando a se desenvolver: a clonagem comercial de animais. Para o terror de nós defensores dos direitos dos bichos, uma empresa da Coréia do Sul, país famoso por preparar carne de cachorro, agora está comercializando cães clonados para milionários. Mais uma vez os animais são valorados e vendidos. Dessa vez são tratados como se fossem estátuas de ouro que alguém derreteu e os ricaços da ocasião querem reaver ainda que como

Antes de tudo, lembremos os debates nos últimos anos da década de 90, em que a comunidade científica internacional se perguntava se era ético clonar humanos. Foi decidido que não era em nenhuma hipótese exceto a clonagem de embriões para alguns fins científicos. Quanto aos animais, ficou decidido que a clonagem para fins de exploração está livre. Daí vemos os bichos que nascem apenas para ser explorados, um fim que ninguém de sã consciência hoje desejaria para um ser humano. Adicionando-se a isso, agora temos essa novidade de vidas criadas para serem vendidas.

O pretexto usado foi que o tutor do cão falecido, o que foi pretendido a ser clonado, quer matar as saudades dele e se sentir como se ele tivesse sido ressuscitado. Entretanto, em uma análise anti-especista filosófica e ética, tenho que jogar um mórbido balde de água fria nessa pretensão de “ressurreição” do bicho, numa série de argumentos.

Primeiro, você aceitaria clonar um filho que morreu ainda menino? Você, manifestando uma incontrolável saudade e a dor de tê-lo perdido, diz que queria matar as saudades nem que fosse clonando-o. Apesar disso, quem garante que o filho clonado terá a mesma personalidade, as mesmas virtudes, o mesmo carinho por você? Quem garante que ele viverá tudo igualzinho e você também dê igualzinho toda a sequência de atos (por exemplo, brincando com ele aos 5 anos, 2 meses e 13 dias de idade igual ao finado; castigando-o por ter te xingado gratuitamente aos 6a,4m,28d; acariciando-o depois de um tombo levado aos 7a,11m,15d; etc.)? É essa sequência de coisas pequenas da vida que faz uma pessoa ser o que é e, por mais simples que pareça, não seria nada conveniente você tentar repetir as atitudes que teve, ainda mais porque você mesmo(a) está em constante mudança e jamais voltará ao status filosófico/espiritual de vida que tinha em certa época. Resumindo, o filho morto não voltará e o seu clone, mesmo que tenha a aparência idêntica, será um filho diferente, irmão do que infelizmente morreu. Cada pessoa é uma pessoa. Mesmo que tenha a combinação gênica igual ao seu “original”, viverá uma sequência de fatos diferente que irá lhe dar uma personalidade distinta. E todos esses fatores também se aplicam aos animais não-humanos de estimação, visto que eles possuem muitos desses atributos sentimentais e psicológicos.

Segundo, abordo mais uma vez a questão da capitalização da vida, da valoração de um ser com sentimentos, virtudes, personalidade e desejos. É de se relevar que os animais não-humanos, principalmente os mamíferos, possuem muitas propriedades psicológicas em comum com os humanos, como as já citadas. Consideremos também que o cão gostava muito de você, era carinhoso, leal e um companheiro de todas as horas. Você aceitaria pagar para ter esse afeto de volta? (desconsidere resgates de seqüestros, porque isso não está em questão neste artigo) Se seu amigo morresse, você compraria outro amigo (supondo que, assim como um cão, ele não se importasse com o fato de que se tornou seu amigo graças ao dinheiro)? É certo você comprar uma vida, uma personalidade, uma amizade? Transcrevo o que um antigo professor meu falou: um absurdo do capitalismo de hoje é que as pessoas estão até comprando afeto, comprando sentimentos. É ético que continue esse regime de mercantilização afetiva, de redução da vida, do amor, da amizade, da companhia, ao atributo de produtos, mercadorias, objetos de consumo?

E por último: imagine se ainda estivéssemos numa época de legalização da escravatura e da livre exploração humana. Se fosse VOCÊ a pessoa nascida como clone de uma criança falecida e vendida por 150 mil dólares ao milionário que foi pai dela? Como você se sentiria se algum dia descobrisse que nasceu para ser vendido(a), que só é filho(a) desse milionário porque ele te comprou de um laboratório? Reflita e verá o absurdo que é essa clonagem comercial. Tá certo, eu sei que a questão é com clonagem de cães, que jamais terão raciocínio para pensar que foram vendidos e se incomodar com isso. Mas puxo para cá a questão do especismo: o que o ser humano tem de superior em relação aos outros animais para que eles sejam valorados e comercializados enquanto nós não? Entenda que, se somos superiores por sermos racionais e capazes de habilidades intelectuais e laborais complexas, os outros animais são igualmente superiores por não contarem com sentimentos/atributos “racionais” de ódio, sadismo, maldade, ignorância, intolerância, etc. contra outrem e também por serem desprovidos da capacidade de pensar em causar destruição em massa nos ambientes habitados e em sua própria espécie.

Creio que isso já é o necessário para que você reflita o quão absurdo é essa nova estupidez de clonar bichos para servirem de produtos dotados de valor financeiro. É uma pena muito grande que me dá de ver que a Coréia do Sul, tão avançada educacional e cientificamente, esteja em contrapartida utilizando tamanho conhecimento para infligir mais estupidez ainda e arrogar ainda mais a tal “superioridade” humana, em vez de trazer adventos filosóficos e éticos que rompam as culturas perniciosas (como a exploração e matança de animais para consumo e o assassinato dos próprios bichos de estimação para serem servidos como carne), permitam o ser humano a construir sua evolução moral e semeiem mais respeito imparcial por parte deste aos outros animais. Se pouco podemos fazer individualmente para influenciarmos os coreanos a pararem de aceitar esses absurdos éticos - exceto quando se tem amigos coreanos ou já se mora por lá -, podemos ao menos impedir, com o máximo de nossos valores de respeito à vida animal, que empresas como essa RNL Bio (a empresa coreana responsável por esse ato de destruição moral) tentem estabelecer seus tentáculos maléficos aqui.

Depois de tudo, é um momento para se avisar novamente: Não compre animais, não aceite a cultura de tratamento da vida não-humana como mercadoria. Adote-os!

Fonte da notícia:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7246380.stm

Robson Fernando
http://rob-artigos.notlong.com

 

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