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Verdes radicais representam risco para os negócios

Valeska Velloso, advogada de 32 anos, moradora de Ipanema, lê o rótulo de qualquer produto novo antes de usar. Na dúvida, liga para a empresa. Se houver um único item de origem animal, Valeska avisa à atendente que lamenta mas não voltará a comprar o produto enquanto a substância constar na composição. Valeska é uma típica radical greening, consumidor detectado pelo estudo Os 10 maiores riscos para os negócios, da consultoria Ernst & Young.


Na pesquisa, os verdes radicais e suas exigências socioambientais são ao mesmo tempo ameaça à fartura nas vendas e demanda por mudanças estruturais em fórmulas e linhas de produção. Conforme a capacidade de cada empresa em se adequar às suas exigências, este cliente meticuloso deixa de ser risco para se tornar oportunidade de ampliar o negócio, como já perceberam inúmeras companhias que estão apostando na reformulação de seus produtos para ampliar o leque de consumidores.


O estudo entrevistou mais de 70 analistas em todo mundo para identificar as novas tendências e incertezas dos negócios nos próximos cinco anos. Foram analisados 12 setores da economia – automotivo, bancos, mercado de capitais, biotecnologia, bens de consumo, seguro, mídia e entretenimento, óleo & gás, farmacêutico, imobiliário, telecomunicações e utilidades.
O resultado foi uma lista com os 10 maiores riscos para os negócios, na qual os verdes radicais ocupam a nona posição. Entre as áreas pesquisadas, três se mostraram mais vulneráveis aos ambientalistas: óleo & gás, automobilismo, mercado de capitais, utilidades (indústria de transformação) e imobiliário. Mas a cobrança tem caráter restrito.


– É uma tendência irreversível, que faz aumentar o consumo de alimentos orgânicos e sucos naturais, busca carros mais econômicos, prioriza eletrodomésticos com menor consumo de energia e vê com reticências o álcool brasileiro se ele vier da Amazônia – diz Joel Bastos, diretor de sustentabilidade da Ernst & Young.


– Assim que descobrimos que um produto contém componente animal, avisamos a toda comunidade vegana, seja pela Internet e no boca-a-boca – diz Valeska, que divulga ainda o que sabe ao público da feira de produtos orgânicos que acontece aos sábados no bairro da Glória. – Também escrevemos para os serviços de atendimento ao consumidor (SAC) das empresas, cobrando o fim dos testes em animais e acompanhamos se estão tomando providências.
Segundo Valeska, o objetivo dos veganos não é renunciar ao consumo, mas exigir novas práticas.


– Queremos que adotem posturas mais éticas, porque o problema com os animais envolve todo o meio ambiente.
Mas, em muitos casos, pela restrição das opções do mercado, os veganos acabam optando por empresas que não se alinham totalmente com sua filosofia.


– Como é muito difícil encontrar empresas 100% veganas, ou seja que só comercializam produtos vegetais e não fazem testes em animais, optamos por corporações amigas dos veganos, com produtos 100% vegetais e que não pratiquem testes – diz a funcionária pública federal Anna Marcia, de 28 anos, moradora da Tijuca.
Vegana há cinco anos, a funcionária pública Laura Kim Barbosa, de 36 anos, percebe uma evolução na oferta de produtos nos últimos dois anos.


– Agora tem doce de leite, chocolate, linguiça e até salsicha.
 

Otimismo

 
Mas a opção não é consenso. – Tento minimizar meu incentivo de consumidor de produtos de empresas que mantêm práticas abusivas contra os animais – diz David Turchick, economista de 25 anos que mora em São Paulo. – Acho que nosso foco deve ser o público, não as empresas, porque produzem para atender à demanda. Mas sou otimista. Acho que o movimento pelo direito dos animais é uma luta que se vence neste século.


Segundo o levantamento da Ernst & Young, a busca não é exclusiva dos veganos nem do Brasil.

– Há tendências apontadas como a busca por imóveis que priorizam a economia de energia e de água e bens de consumo fabricados e utilizados com respeito ao meio ambiente entre outros – diz Bastos.

Para ele, um dos pontos mais importantes do levantamento é o que mostra o risco como o embrião da oportunidade.
– As dificuldades que as empresas teriam estão diretamente relacionadas à capacidade de alterar seus produtos ou meios de produção de tal forma que possam atender aos ‘novos’ consumidores – completa.

Leda Rosa
São Paulo

Fonte: JB Online - o primeiro jornal brasileiro na internet - 01/06/2008

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