Fontes Naturais ("Natural Sources.")
Por Trás do Rótulo "Natural": Um Guia para a Comunidade Vegana sobre Ingredientes Ocultos, Greenwashing e Consumo Consciente no Brasil.

Introdução: A Ilusão do "Natural"
Nos corredores dos supermercados, uma palavra se destaca como um selo de pureza e confiança: "natural". Impulsionada por uma crescente busca por saúde, bem-estar e sustentabilidade, a demanda por produtos com "ingredientes de fontes naturais" tornou-se uma força motriz na indústria alimentícia.1 Para a comunidade vegana, essa busca é ainda mais criteriosa, guiada por um profundo compromisso ético com a abolição da exploração animal. Nesse contexto, o termo "natural" é frequentemente, e perigosamente, interpretado como sinônimo de "origem vegetal".
Este relatório desvenda o paradoxo central que reside nessa suposição: a terminologia "fontes naturais", tanto em sua definição técnica quanto em sua aplicação industrial, não exclui ingredientes de origem animal.3 Pelo contrário, ela os abrange explicitamente. Essa ambiguidade semântica cria um terreno fértil para estratégias de marketing sofisticadas e, por vezes, enganosas, conhecidas como Greenwashing e Veganwashing. O Greenwashing, ou a "mentira verde", ocorre quando uma empresa projeta uma imagem de responsabilidade ambiental que não corresponde às suas práticas reais.5 De forma mais específica, o Veganwashing representa a apropriação do discurso e da ética vegana por corporações que, em sua essência, continuam a lucrar com a exploração animal em larga escala.7 O apelo vago e positivo do termo "natural" é uma das ferramentas mais eficazes em ambos os arsenais.
O objetivo deste dossiê é, portanto, fornecer à comunidade vegana brasileira as ferramentas analíticas necessárias para navegar neste cenário complexo. Ao decodificar a terminologia regulatória, expor as táticas de marketing e investigar ingredientes específicos que se escondem por trás de uma fachada "natural", este documento visa capacitar o consumidor a fazer escolhas que estejam verdadeiramente alinhadas com seus princípios, transformando a incerteza na gôndola em uma decisão informada e consciente.
Seção 1: Decodificando a Terminologia "Fontes Naturais" na Indústria Alimentícia
Para compreender como a palavra "natural" pode induzir ao erro, é fundamental analisar sua definição técnica, o cenário regulatório no Brasil e os precedentes internacionais que moldam as práticas da indústria.
1.1 A Definição Abrangente de "Natural": Animal, Vegetal e Além
No léxico da indústria de alimentos, o termo "ingrediente natural" refere-se a qualquer composto cuja origem esteja na natureza, sem que sua constituição essencial seja alterada por processos de extração.3 Essa definição é intencionalmente ampla e abrange três reinos principais: vegetal (frutas, grãos, folhas), microbiano (leveduras, bactérias) e, crucialmente, o reino animal.3 Portanto, ingredientes como carnes, ovos, leite e até secreções de insetos são, sob esta ótica, considerados "naturais".8
Essa lógica não se restringe aos alimentos. Na indústria de cosméticos, por exemplo, ingredientes como a lanolina (derivada da lã de ovelha) e o mel podem ser encontrados em produtos rotulados como "naturais".4 A discrepância fundamental reside na percepção do consumidor versus a realidade industrial. Enquanto o público leigo tende a associar "natural" a "saudável" e "à base de plantas", a indústria o utiliza para diferenciar seus produtos de alternativas sintéticas, independentemente da origem.10
1.2 O Vácuo Regulatório no Brasil: A Ambivalência Estratégica da ANVISA
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão responsável por estabelecer as regras de rotulagem de alimentos, com o objetivo de garantir a qualidade dos produtos e proteger a saúde da população, proibindo explicitamente informações falsas ou que possam induzir o consumidor ao erro.11 A agência demonstrou sua capacidade de criar definições precisas para termos específicos. Por exemplo, para que um produto seja rotulado como "integral", ele deve conter pelo menos 30% de ingredientes integrais, e a quantidade destes deve ser superior à dos ingredientes refinados.13 Da mesma forma, a produção e rotulagem de produtos "orgânicos" são regidas por uma legislação detalhada, como a Lei nº 10.831 de 2003.14
Contudo, para o termo "natural" ou "de fontes naturais", não existe uma definição legal clara e abrangente na regulamentação da ANVISA. As normas existentes focam em garantir a segurança dos ingredientes, independentemente de sua origem, exigindo laudos e caracterização química, mas sem restringir o uso do termo a fontes exclusivamente vegetais.18 Essa ausência de uma definição restritiva não é uma mera omissão; ela cria um vácuo regulatório. Este vácuo funciona como uma permissão tácita para que a indústria utilize a definição técnica mais ampla (que inclui animais) sob uma alegação de marketing que o consumidor interpreta de forma restrita (apenas plantas). É a brecha legal que permite o florescimento da ambiguidade.
1.3 A Evidência Internacional: O Caso da FDA e a Definição de "Aroma Natural"
Para confirmar que a inclusão de fontes animais na definição de "natural" é uma prática industrial padrão, basta analisar a regulamentação de uma das agências mais influentes do mundo, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos. O Código de Regulamentações Federais da FDA define "aroma natural" (natural flavor) de forma explícita e inequívoca.
Segundo a seção 21 CFR 101.22, um aroma natural é um extrato ou derivado de:
"...uma especiaria, fruta ou suco de fruta, vegetal ou suco de vegetal, levedura comestível, erva, casca, broto, raiz, folha ou material vegetal similar, carne, peixe, aves, ovos, laticínios, ou produtos de fermentação dos mesmos, cuja função significativa no alimento é o sabor em vez da nutrição".19
Esta definição, codificada em lei, serve como um alerta global. Ela prova que, mesmo sob um regime regulatório rigoroso, a indústria alimentícia considera e classifica subprodutos de origem animal como "naturais". Para o consumidor vegano no Brasil, isso significa que a suposição de que "natural" implica "vegano" não é apenas infundada, mas contrária à prática padrão da indústria global. A falta de uma regulamentação específica da ANVISA simplesmente deixa a porta aberta para que essa mesma lógica seja aplicada no mercado nacional sem restrições.
Seção 2: A Anatomia do Engano: Greenwashing e Veganwashing na Prática
A ambiguidade do termo "natural" é a ferramenta perfeita para duas estratégias de marketing interligadas: o Greenwashing e o Veganwashing. Ambas exploram o desejo do consumidor por escolhas éticas, mas o fazem sem um compromisso genuíno com os valores que afirmam representar.
2.1 Definindo as Estratégias: Da "Pincelada Verde" à "Lavagem Vegana"
O Greenwashing pode ser traduzido como "maquiagem verde" ou "pincelada verde".6 É a prática de uma empresa promover uma imagem de sustentabilidade e responsabilidade ambiental que não se reflete em suas operações. Isso é frequentemente alcançado através do uso de termos vagos e não verificáveis, como "eco-friendly", "sustentável" ou, como analisado, "natural".5 Esta tática se enquadra no que analistas chamam de "pecado da incerteza", onde uma alegação é tão ampla que seu significado real é perdido, permitindo que o consumidor preencha a lacuna com suas próprias suposições positivas.21
O Veganwashing é uma forma mais específica e direcionada de Greenwashing que se apropria da ética vegana para fins comerciais.7 A estratégia é definida como a manifestação de respeito aos ideais veganos por meio de produtos e comunicação, enquanto, na realidade, a empresa mantém práticas tradicionais de exploração animal, humana e ambiental.7 Uma empresa que lucra predominantemente com a venda de carne, laticínios e ovos pode lançar uma linha de produtos veganos para capturar esse nicho de mercado em crescimento, sem alterar fundamentalmente seu modelo de negócios principal.22
2.2 O Ciclo do Veganwashing: Do Lançamento do Produto à Contradição Corporativa
O processo de Veganwashing segue um padrão identificável. Grandes conglomerados da indústria alimentícia, cuja receita depende da pecuária e da indústria de laticínios, entram no mercado vegano por meio da aquisição de startups que já atuam no nicho ou pelo desenvolvimento de suas próprias linhas "plant-based".7 O objetivo não é uma transição ética, mas uma diversificação de portfólio para maximizar o lucro.
A dissonância se torna evidente quando as práticas corporativas gerais são examinadas. Um exemplo claro é uma empresa que lança um hambúrguer vegano aclamado, mas, ao mesmo tempo, patrocina rodeios, eventos que são fundamentalmente baseados na exploração animal.7 Outros casos incluem empresas com linhas de produtos veganos que são simultaneamente denunciadas por crueldade animal em suas fazendas fornecedoras de leite ou por manter testes em animais para outros segmentos de seus negócios.7
Isso revela uma implicação sistêmica profunda. O Veganwashing não é apenas sobre um produto individual que pode ser enganoso; é sobre a identidade e a estratégia da corporação como um todo. A tática visa neutralizar o boicote de consumidores éticos, permitindo que a mesma empresa que explora animais em 99% de suas operações receba o dinheiro do consumidor vegano através de 1% de seu portfólio. Este fenômeno representa a cooptação do movimento vegano pelo sistema de consumo convencional. Ele transforma uma filosofia de abolição da exploração animal em apenas mais um segmento de mercado. Ao focar a atenção no "produto" (que é livre de ingredientes animais) e desviar o olhar do "processo" (as práticas gerais da empresa), a indústria dilui o significado político e ético do veganismo. Paradoxalmente, o ato de comprar um produto vegano de uma empresa que pratica Veganwashing pode acabar financiando e fortalecendo a mesma estrutura de exploração animal que o consumidor busca combater.
Seção 3: Ingredientes Sob a Lupa: Estudos de Caso de Fontes "Naturais" de Origem Animal
Para além da teoria, a presença de ingredientes de origem animal em produtos rotulados como "naturais" é uma realidade concreta. A seguir, uma análise detalhada de alguns dos aditivos mais comuns que servem como armadilhas para consumidores veganos desatentos.
3.1 Corante Carmim de Cochonilha (INS 120): O Inseto por Trás do Vermelho "Natural"
- Origem e Processo: O vibrante corante vermelho "natural" conhecido como carmim é extraído dos corpos secos e esmagados das fêmeas do inseto cochonilha (Dactylopius coccus), que vivem em cactos.23 O processo de produção é massivo e envolve o sacrifício de um número espantoso de vidas: estima-se que sejam necessários cerca de 70.000 insetos para produzir apenas 500 gramas de corante.23 Após a colheita, os insetos são desidratados e triturados, e o pigmento (ácido carmínico) é extraído quimicamente.25
- Uso na Indústria: Devido à sua estabilidade ao calor e à luz, o carmim é amplamente utilizado para dar cor a uma vasta gama de produtos, incluindo iogurtes e bebidas lácteas sabor morango, sucos, balas, gelatinas, sorvetes e até produtos cárneos como salsichas.25
- No Rótulo: Pode aparecer com vários nomes, o que dificulta a identificação: "corante natural carmim de cochonilha", "extrato de cochonilha", "carmim", "C.I. 75470", "E120" ou, de forma mais vaga e perigosa, simplesmente "corante natural".23
3.2 Goma-Laca (INS 904): O Brilho que Esconde a Exploração
- Origem e Processo: A goma-laca é uma resina "natural" secretada pelo inseto Kerria lacca, nativo de florestas na Índia e Tailândia.33 A produção começa com a raspagem da resina dos galhos das árvores onde os insetos vivem. Este processo inevitavelmente coleta não apenas a resina, mas também os próprios insetos e seus ovos.35 Embora o material seja posteriormente filtrado, a exploração e morte de centenas de milhares de insetos são inerentes à produção de cada quilo de goma-laca.35
- Uso na Indústria: É utilizada como um agente de brilho e revestimento (glaceante) em confeitaria, como balas, gomas de mascar e chocolates. Também é aplicada em frutas frescas para aumentar sua vida útil e em cápsulas de medicamentos e suplementos para dar um acabamento liso.37
- No Rótulo: Geralmente declarada como "goma-laca", "shellac" ou pelo seu código de aditivo "INS 904".
3.3 L-Cisteína (INS 920): O Segredo Obscuro da Panificação
- Origem e Processo: Este aminoácido é frequentemente adicionado à farinha como um agente de tratamento, popularmente conhecido como "melhorador de farinha", para tornar a massa de pães e outros produtos de panificação mais macia e elástica.39 Embora existam versões veganas produzidas por fermentação de fontes vegetais (como milho) ou sinteticamente 40, uma fonte "natural" e de baixo custo, amplamente utilizada pela indústria, é a extração a partir de penas de pato e ganso, pelos de porco e, em alguns casos, até cabelo humano.39
- A Alternativa Vegana: A existência de uma alternativa vegana torna a falta de especificação no rótulo ainda mais problemática. Sem a indicação da origem, é impossível para o consumidor saber se está consumindo um produto derivado de plantas ou de subprodutos animais.
- No Rótulo: A presença deste aditivo é indicada pelos termos "L-cisteína", "melhorador de farinha" ou pelo código "INS 920".39
3.4 Vitamina D3 (Colecalciferol): A Vitamina "Natural" da Lã de Ovelha
- Origem e Processo: A vitamina D existe em duas formas principais: D2 (ergocalciferol), de origem vegetal (como cogumelos), e D3 (colecalciferol). A forma D3 é a mais comummente utilizada para fortificar alimentos, pois é quimicamente idêntica àquela que o corpo humano produz com a exposição ao sol.44 A fonte industrial predominante e "natural" de vitamina D3 é a lanolina, uma substância cerosa extraída da lã de ovelha.45 A lanolina é exposta à radiação ultravioleta (UVB) para converter uma de suas moléculas em colecalciferol.47
- Uso na Indústria: É adicionada a uma variedade de produtos para fortificação nutricional, incluindo cereais matinais, achocolatados em pó, margarinas, sucos e leites vegetais (como de soja ou amêndoas).49
- No Rótulo: Geralmente listada apenas como "Vitamina D3" ou "colecalciferol". A fonte (lanolina) raramente é declarada, exigindo que o consumidor investigue diretamente com o fabricante para confirmar se o produto é adequado para veganos.
Guia de Ingredientes "Naturais" de Origem Animal Oculta |
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Nome Comum |
Código (INS) |
Origem Animal Comum |
Processo de Obtenção |
Produtos Comuns |
Nomes no Rótulo |
Carmim de Cochonilha |
INS 120 (E120) |
Inseto Dactylopius coccus |
Esmagamento de fêmeas dessecadas do inseto para extrair o ácido carmínico. |
Iogurtes de morango, sucos, balas, gelatinas, embutidos. |
Carmim, Extrato de Cochonilha, C.I. 75470, Corante Natural. |
Goma-Laca |
INS 904 |
Inseto Kerria lacca |
Raspagem da resina secretada pelo inseto, que inclui os próprios insetos. |
Doces, chocolates, frutas (como revestimento), cápsulas de medicamentos. |
Goma-laca, Shellac, Agente de brilho/glaceante. |
L-Cisteína |
INS 920 |
Penas de aves, pelos de porco, cabelo humano. |
Hidrólise ácida de queratina (proteína) presente nessas fontes. |
Pães de forma, massas de pizza, biscoitos, produtos de panificação industrial. |
L-cisteína, Melhorador de farinha. |
Vitamina D3 |
N/A |
Lanolina (da lã de ovelha). |
Irradiação UV da lanolina para produzir colecalciferol. |
Leites vegetais, cereais matinais, sucos, margarinas, achocolatados. |
Vitamina D3, Colecalciferol. |
Seção 4: Navegando no Supermercado: Um Guia Prático para o Consumidor Vegano
Armado com o conhecimento sobre a ambiguidade do termo "natural" e os ingredientes-armadilha, o consumidor vegano pode adotar uma abordagem mais crítica e metódica ao fazer compras. Esta seção oferece um guia prático para decifrar rótulos e tomar decisões seguras.
4.1 A Hierarquia da Confiança: Desvendando as Alegações de Rótulo
As alegações na parte frontal das embalagens são ferramentas de marketing. Para o consumidor vegano, elas podem ser organizadas em uma hierarquia de confiabilidade, da mais fraca à mais forte:
- "Natural": Este é o nível mais baixo de confiança. Como demonstrado, o termo é vago e pode legalmente incluir ingredientes de origem animal.4 É uma alegação que deve ser vista com ceticismo e sempre verificada na lista de ingredientes.
- "100% Vegetal" / "À Base de Plantas" (Plant-Based): Esta alegação oferece um grau de segurança maior, indicando que os ingredientes do produto são de origem vegetal.53 No entanto, ela não faz nenhuma garantia sobre o processo de produção. Por exemplo, um vinho "100% vegetal" pode ter sido clarificado com agentes de origem animal (como albumina de ovo ou cola de peixe). Além disso, não assegura que o produto ou seus ingredientes não foram testados em animais.55
- "Orgânico": Esta certificação foca estritamente no método de cultivo — ausência de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos.4 Um produto pode ser orgânico e não ser vegano, como um iogurte feito com leite orgânico ou um cosmético com cera de abelha orgânica.
- "Vegano" (Autodeclarado): Uma alegação forte, mas que depende inteiramente da diligência e honestidade do fabricante. Sem a verificação de uma entidade externa, está sujeita a erros, desinformação ou ao próprio Veganwashing.
- "Vegano Certificado" (com selo): Este é o padrão-ouro de confiança. A certificação por uma organização de terceiros, como a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), garante que o produto passou por uma auditoria rigorosa que vai além da lista de ingredientes.
4.2 O Poder da Certificação: Por que o Selo Vegano da SVB é a Garantia Máxima
No Brasil, o "Certificado Produto Vegano SVB" é a garantia mais robusta para o consumidor.4 O processo de certificação da Sociedade Vegetariana Brasileira é minucioso e baseia-se em três critérios fundamentais:
- Produto sem ingredientes de origem animal: A análise verifica não apenas a composição final, mas todo o processo de fabricação para garantir que nenhum insumo de origem animal foi utilizado.58
- Empresa não testa o produto finalizado em animais: A empresa deve comprovar que não realiza testes em animais para o produto em questão.60
- Fornecedores não testam os ingredientes em animais: Este é um diferencial crucial. A SVB audita a cadeia de suprimentos, garantindo que os fornecedores das matérias-primas também aderem a uma política cruelty-free.58
É importante notar que a certificação é concedida por produto, e não por empresa. Isso explica por que uma marca que também vende produtos de origem animal pode ter itens específicos com o Selo Vegano.60 Essa abordagem incentiva grandes empresas a diversificarem seu portfólio com opções genuinamente veganas.
4.3 Lendo Rótulos como um Detetive: Dicas Práticas
- A Lista de Ingredientes é Soberana: Ignore as alegações de marketing na frente da embalagem. A verdade sobre a composição do produto está na lista de ingredientes, que é regulamentada e legalmente vinculante.
- Atenção aos Códigos INS: Familiarize-se com os códigos de aditivos que frequentemente têm origem animal, como os detalhados na Seção 3 (INS 120, INS 904, INS 920).
- Decifrando o "Pode Conter": A declaração "Pode conter leite, ovos, etc." é uma advertência obrigatória para pessoas com alergias e refere-se à possibilidade de contaminação cruzada não intencional (quando produtos são feitos na mesma fábrica).61 Um produto com esta advertência pode, sim, ser vegano e receber a certificação da SVB, pois não há uso intencional de ingredientes animais em sua fórmula.58
Comparativo de Alegações de Rótulo: Um Guia de Confiança |
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Alegação no Rótulo |
O que Garante |
O que NÃO Garante (para veganos) |
Nível de Confiança |
"Natural" |
Que o ingrediente não é sintético. |
A ausência de ingredientes de origem animal. |
Muito Baixo |
"100% Vegetal" / "Plant-Based" |
Que os ingredientes são de origem vegetal. |
Ausência de testes em animais; processo de fabricação livre de insumos animais. |
Médio |
"Orgânico" |
Que o cultivo foi feito sem agrotóxicos sintéticos. |
A ausência de ingredientes de origem animal (pode conter leite, mel, ovos orgânicos). |
Baixo (para fins veganos) |
"Vegano" (autodeclarado) |
A intenção do fabricante de não usar ingredientes ou testes em animais. |
Verificação independente; proteção contra erros ou desinformação. |
Alto, mas requer confiança na marca |
"Vegano Certificado" (Selo SVB) |
Ausência de ingredientes animais; ausência de testes no produto e nos ingredientes; auditoria de terceiros. |
Nada. É a garantia mais completa. |
Muito Alto |
Seção 5: Conclusão e Recomendações: Rumo a um Consumo Consciente e Transparente
A análise da terminologia "fontes naturais" revela uma desconexão crítica entre a percepção do consumidor e a prática da indústria alimentícia. O que para muitos soa como uma promessa de pureza e origem vegetal, na realidade, é uma categoria ampla que abrange ingredientes de origem animal, muitas vezes obtidos por meio de processos que contradizem diretamente a ética vegana.
5.1 Síntese dos Achados: O "Natural" como Ferramenta de Marketing
Este relatório demonstrou que a vagueza do termo "natural", aliada a um vácuo regulatório no Brasil, permite que ele seja usado como uma poderosa ferramenta de marketing. Essa ambiguidade facilita práticas de Greenwashing e Veganwashing, nas quais as empresas capitalizam sobre a demanda por produtos éticos sem um compromisso real com a mudança. Ingredientes como o corante carmim, a goma-laca, a L-cisteína de penas e a vitamina D3 de lanolina são exemplos concretos de como substâncias de origem animal podem se esconder por trás de uma fachada "natural". A conclusão central é inequívoca: no contexto da rotulagem de alimentos, "natural" não é uma garantia ética, é uma estratégia de vendas.
5.2 Recomendações para o Consumidor Vegano Ativista
Para navegar neste cenário e garantir que as escolhas de consumo estejam alinhadas com os princípios veganos, as seguintes ações são recomendadas:
- Priorize a Certificação: Dê preferência absoluta a produtos que ostentam um selo de certificação vegana confiável, como o "Certificado Produto Vegano SVB". Esta é a forma mais segura de garantir que um produto foi auditado por terceiros e cumpre os mais altos padrões éticos.
- Questione as Marcas: Na ausência de um selo, torne-se um consumidor ativo. Entre em contato com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) das empresas e faça perguntas diretas sobre a origem de ingredientes suspeitos. Questione: "A vitamina D3 em seu produto é derivada de lanolina ou de líquen?", "A L-cisteína usada é de fermentação vegetal?". A pressão do consumidor é um poderoso catalisador para a transparência.
- Eduque a Comunidade: Compartilhe este conhecimento. Discuta as nuances dos rótulos com amigos, familiares e em grupos online. Quanto mais informada a comunidade se tornar, menor será o poder das estratégias de marketing enganosas e maior será a pressão coletiva por clareza.
- Leia a Lista de Ingredientes, Sempre: Adote como prática fundamental ignorar as alegações da frente da embalagem e focar na lista de ingredientes. Ela é a fonte de informação mais confiável sobre a composição de um produto.
5.3 Perspectivas Futuras: A Necessidade de Clareza Regulatória
Finalmente, é imperativo que os órgãos reguladores atuem para proteger os consumidores. Há uma necessidade urgente de que a ANVISA estabeleça definições claras e legalmente vinculantes para alegações como "natural", "de origem vegetal" e "vegano" na rotulagem de alimentos.63 A criação de uma regulamentação específica coibiria o Veganwashing, reduziria a confusão do consumidor e forçaria a indústria a adotar um padrão mais elevado de transparência. Um sistema de rotulagem claro e honesto não beneficia apenas os veganos, mas todos os consumidores que desejam fazer escolhas alimentares informadas e conscientes.
Fontes:
- Condicionador Botanic Beauty Amend Óleo de Monoi Alecrim e Gengibre 250ml - Shopee, accessed August 25, 2025, https://shopee.com.br/
- Shampoo Botanic Beauty Óleo de Monói e Extratos de Alecrim e Gengibre 250ml - Amend, accessed August 25, 2025, https://www.perfumariaseiki.com.br/
- A adoção dos ingredientes naturais na indústria alimentícia - Food Connection, accessed August 25, 2025, https://www.foodconnection.com.br/
- Diferença entre cosméticos Naturais, Orgânicos e Veganos - Tecfag Group, accessed August 25, 2025, https://grupo.tecfag.com.br/blog/cosmeticos-naturais-organicos-e-veganos-entendendo-as-diferencas/
- Mentira Verde | Idec - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, accessed August 25, 2025, https://idec.org.br/greenwashing
- O que é greenwashing? Exemplos no ramo alimentício e como evitar! - Portal Deviante, accessed August 25, 2025, https://www.deviante.com.br/noticias/o-que-e-greenwashing-exemplos-no-ramo-alimenticio-e-como-evitar/
- (PDF) Consumo ético vs. vegan-washing: analisando ações estratégicas corporativas direcionadas ao mercado vegano - ResearchGate, accessed August 25, 2025, https://www.researchgate.net/publication/349604146_Consumo_etico_vs_vegan-washing_analisando_acoes_estrategicas_corporativas_direcionadas_ao_mercado_vegano
- Alimentos de origem animal: carnes, ovos e laticínios - Toda Matéria, accessed August 25, 2025, https://www.todamateria.com.br/alimentos-de-origem-animal/
- Alimentos de origem vegetal: frutas, verduras e legumes - Toda Matéria, accessed August 25, 2025, https://www.todamateria.com.br/alimentos-de-origem-vegetal/
- Ingredientes naturais: 5 dicas para incluí-los na rotina - Palmolive, accessed August 25, 2025, https://www.palmolive.com.br/dicas/cuidado-da-pele/ingredientes-naturais
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- INSTRUÇÃO NORMATIVA GM/MAPA Nº 17, DE 18 DE JUNHO DE 2014 - AnvisaLegis, accessed August 25, 2025, https://anvisalegis.datalegis.net/
- Legislação - Orgânicos — Ministério da Agricultura e Pecuária - Portal Gov.br, accessed August 25, 2025, https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/organicos/legislacao-organicos
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