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Esqualeno (Squalene.)

Esqualano em Cosméticos: Um Guia Completo para o Consumidor Vegano

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Introdução: O Dilema Oculto no Seu Hidratante

Na vanguarda da indústria de skincare, o Esqualano é celebrado como um ingrediente de alta performance. Sua reputação se baseia em uma excepcional capacidade de hidratação e em uma notável biocompatibilidade com a pele humana, o que o torna um componente cobiçado em produtos de luxo e formulações de clean beauty.1 Contudo, por trás de sua eficácia, reside um paradoxo complexo e preocupante: a origem deste insumo. O Esqualano pode ser derivado de fontes vegetais sustentáveis ou de uma prática cruel e ecologicamente devastadora — a caça de tubarões de profundidade.1 Esta dualidade representa o cerne do problema para o consumidor vegano e consciente.

Este relatório tem como objetivo fornecer um guia definitivo e exaustivo para a comunidade vegana. Ao longo dos próximos capítulos, serão desmistificadas as bases científicas que diferenciam o Esqualeno do Esqualano, exposta a verdade sobre a exploração marinha associada ao ingrediente, celebradas as inovações em fontes vegetais e, fundamentalmente, oferecidas as ferramentas necessárias para que o consumidor possa fazer escolhas 100% alinhadas com seus valores éticos, garantindo que a busca pela beleza não contribua para a crueldade animal e a destruição dos ecossistemas oceânicos.


Capítulo 1: Desvendando a Molécula - Esqualeno vs. Esqualano

Para navegar com segurança no universo dos cosméticos, é crucial compreender a distinção química fundamental entre duas moléculas de nome semelhante, mas com propriedades drasticamente diferentes: Esqualeno e Esqualano. Essa diferença não é apenas um detalhe técnico; é a razão direta pela qual uma forma domina a indústria e por que a questão de sua origem se torna tão crítica.


1.1. Esqualeno (com "e"): O Precursor Natural e Instável

O Esqualeno, com a fórmula química C30​H50​, é um lipídio natural da classe dos triterpenoides.5 Sua estrutura é classificada como insaturada, o que significa que possui múltiplas ligações duplas de carbono.6 Esta característica é a chave para entender tanto seus benefícios biológicos quanto suas limitações comerciais.

Biologicamente, o Esqualeno é um componente vital do sebo humano, constituindo aproximadamente 13% a 15% da mistura lipídica secretada por nossas glândulas sebáceas.4 Sua principal função é manter a hidratação, a elasticidade e a integridade da barreira de proteção da pele.1 No entanto, a produção natural de Esqualeno pelo corpo humano atinge seu pico na adolescência e começa a diminuir significativamente a partir dos 20 ou 30 anos de idade, um fator que contribui para o aumento do ressecamento e o aparecimento de sinais de envelhecimento.4

Apesar de sua importância biológica, a estrutura insaturada do Esqualeno o torna altamente suscetível à oxidação quando exposto ao ar e à luz. Essa instabilidade faz com que ele se degrade e rança rapidamente, perdendo sua eficácia e tornando-o inadequado para uso direto em formulações cosméticas que exigem uma longa vida útil na prateleira.1


1.2. Esqualano (com "a"): A Versão Estável e Pronta para a Pele

Para superar o problema da instabilidade, a indústria cosmética recorre a um processo químico chamado hidrogenação. Neste processo, a molécula de Esqualeno é tratada com hidrogênio sob pressão e na presença de um catalisador. As ligações duplas reagem com o hidrogênio e são convertidas em ligações simples, "saturando" a molécula.7 O resultado é o Esqualano, um hidrocarboneto completamente saturado com a fórmula química C30​H62​.11

Esta transformação confere ao Esqualano propriedades ideais para uso cosmético: é extremamente estável, incolor, inodoro e possui uma vida útil superior a dois anos.3 É esta forma estável, o Esqualano, que os consumidores encontram listada nos ingredientes dos seus produtos de skincare.8

A eficácia do Esqualano reside em sua profunda biocompatibilidade. Como sua estrutura molecular é quase idêntica ao Esqualeno naturalmente presente no sebo humano, a pele o reconhece como um componente familiar. Isso permite que seja absorvido rapidamente e profundamente, sem deixar uma sensação oleosa ou obstruir os poros.1 Essa característica o torna um emoliente e hidratante universalmente eficaz, adequado para todos os tipos de pele, desde as mais secas e sensíveis até as oleosas e com tendência à acne.2

A distinção química é, portanto, a chave para o mercado: a instabilidade do Esqualeno natural torna-o comercialmente inviável para a maioria das aplicações, tornando a hidrogenação uma etapa industrial indispensável. Consequentemente, o ingrediente que o consumidor utiliza é sempre o Esqualano. Isso direciona a questão ética para a fonte do Esqualeno precursor que foi submetido a este processo. A estabilidade do produto final no frasco não oferece nenhuma pista sobre a sustentabilidade ou a crueldade de sua origem.


Capítulo 2: A Origem Sombria - A Caça de Tubarões pela Beleza

A história do Esqualano na indústria da beleza está manchada por uma prática obscura e destrutiva. A busca por um ingrediente "natural" e "livre de óleo" para hidratantes e cremes antienvelhecimento impulsionou, paradoxalmente, uma das atividades mais antinaturais e prejudiciais aos ecossistemas marinhos: a caça predatória de tubarões.


2.1. Uma História de Exploração

O Esqualeno foi descoberto pela primeira vez em 1906, em extratos de óleo de fígado de tubarões de águas profundas.5 Essas espécies, que habitam profundezas de 300 a 1500 metros, evoluíram para ter fígados enormes — que podem compor até 25% de seu peso corporal total — repletos de óleo de baixa densidade. Este óleo, rico em Esqualeno, ajuda-os a regular a flutuabilidade nas pressões esmagadoras do oceano profundo.4

Por décadas, essa foi a fonte mais barata e concentrada de Esqualeno. Relatórios de organizações não governamentais (ONGs) de conservação marinha, como a BLOOM e a Oceana, revelaram que a indústria cosmética se tornou a principal força motriz por trás dessa exploração, sendo responsável por até 90% da demanda global por óleo de fígado de tubarão.4


2.2. O Impacto Devastador nos Oceanos

A escala dessa exploração é alarmante. Estimativas da BLOOM indicam que, no auge da demanda, cerca de 3 milhões de tubarões eram mortos anualmente para suprir o mercado de Esqualeno.17 Para contextualizar, são necessários aproximadamente 3.000 tubarões para produzir uma única tonelada de Esqualano.4

As espécies mais visadas são precisamente as mais vulneráveis. Tubarões de profundidade são caracterizados por uma biologia que os torna extremamente suscetíveis à sobrepesca: eles crescem lentamente, atingem a maturidade sexual tardiamente e produzem poucos filhotes ao longo de suas longas vidas.13 Suas populações simplesmente não conseguem se recuperar na mesma velocidade em que são exploradas. Como resultado, muitas dessas espécies foram levadas à beira da extinção e hoje figuram na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).4

A remoção em massa desses predadores de topo causa um desequilíbrio ecológico profundo. A perda de tubarões desencadeia efeitos em cascata em toda a cadeia alimentar marinha, comprometendo a saúde e a resiliência dos ecossistemas oceânicos como um todo.14


2.3. O Papel do Ativismo e da Conscientização

Um ponto de virada crucial ocorreu a partir de 2008, quando campanhas e investigações lideradas pela Oceana e pela BLOOM começaram a expor a conexão direta entre cremes de beleza e a matança de tubarões.4 Esses relatórios foram fundamentais para trazer o problema à atenção do público e da própria indústria.

A pressão pública e midiática resultante forçou grandes conglomerados a reavaliar suas cadeias de suprimentos. Empresas como a Unilever (proprietária de marcas como Dove e Pond's) e a L'Oréal anunciaram publicamente seus compromissos de eliminar o uso de Esqualano derivado de tubarão, optando por alternativas vegetais.4 Este movimento demonstrou um padrão sistêmico: indústrias podem perpetuar práticas antiéticas enquanto houver opacidade. Foi somente quando as ONGs criaram transparência e os consumidores se conscientizaram que a mudança começou a acontecer, provando que a demanda do consumidor, quando informada, é uma força poderosa para a reforma corporativa.


Capítulo 3: A Revolução Verde - As Alternativas Vegetais e Biotecnológicas

A crescente conscientização sobre o impacto ambiental e ético do Esqualano de tubarão impulsionou a busca por alternativas sustentáveis. Felizmente, a natureza e a inovação tecnológica forneceram soluções que não apenas eliminam a crueldade animal, mas também oferecem um produto de alta qualidade e pureza, muitas vezes superior.


3.1. Phytoesqualano: A Solução da Natureza

O termo "Phytoesqualano" refere-se ao Esqualano derivado de fontes vegetais. Historicamente, a fonte mais proeminente tem sido a azeitona.

  • Esqualano Derivado de Azeitonas (Óleo de Oliva): O azeite de oliva é uma das fontes vegetais mais ricas em Esqualeno, que se concentra na fração insaponificável do óleo.22 Muitas vezes, o Esqualeno é extraído como um subproduto valioso do processo de refino do azeite, tornando-o uma opção 100% vegetal e vegana.23
  • Outras Fontes Vegetais: Além das azeitonas, o Esqualeno também é encontrado em concentrações menores em outros óleos vegetais, como o de amaranto, farelo de arroz, gérmen de trigo e palma.5 Empresas especializadas, como a Evonik, desenvolveram processos para extrair Esqualeno de alta pureza e grau farmacêutico a partir de fontes como o amaranto, atendendo a nichos de mercado específicos.26

3.2. A Vanguarda da Biotecnologia: Esqualano de Cana-de-Açúcar

A transição do Esqualano de azeitona para o de cana-de-açúcar representa um salto tecnológico significativo. A biotecnologia resolveu os desafios de escalabilidade e variabilidade da agricultura tradicional, tornando a opção sustentável também a mais viável industrialmente em larga escala.

  • O Processo de Fermentação: Empresas de biotecnologia, como a Amyris, são pioneiras em um processo inovador. Nele, leveduras geneticamente modificadas (Saccharomyces cerevisiae) são alimentadas com sacarose de cana-de-açúcar. Através da fermentação, essas leveduras produzem uma molécula precursora chamada farneseno.11 O farneseno é então dimerizado (duas moléculas são unidas) e hidrogenado para criar Esqualano de altíssima pureza.11
  • Sustentabilidade e Escalabilidade: Este método oferece vantagens imensas. A cana-de-açúcar é uma matéria-prima altamente renovável. A Amyris, por exemplo, utiliza cana cultivada no Brasil, em áreas distantes da Floresta Amazônica, em plantações que não requerem irrigação e são certificadas por práticas sustentáveis pela Bonsucro, uma ONG internacional.28 O processo é consistente, escalável e não está sujeito à volatilidade climática que pode afetar as colheitas de azeitonas.27
  • Eficiência de Produção: A eficiência do uso da terra é drasticamente superior. Segundo dados da L'Oréal, um hectare de cana-de-açúcar pode produzir 2,5 toneladas de Esqualano, enquanto um hectare de oliveiras produz apenas 50 kg.28 Essa diferença de 50 vezes demonstra a superioridade do método biotecnológico.

3.3. Análise Comparativa: Eficácia e Pureza

É fundamental esclarecer um ponto: independentemente da fonte — seja tubarão, azeitona ou cana-de-açúcar — a molécula final de Esqualano é quimicamente idêntica: C30​H62​.4

Por serem a mesma molécula, seus benefícios e performance na pele são exatamente os mesmos. O Esqualano vegetal oferece a mesma hidratação, emoliência e capacidade de reparo da barreira cutânea que sua contraparte de origem animal.10 De fato, algumas fontes argumentam que a pureza e a consistência alcançadas através do processo de fermentação biotecnológica podem resultar em um produto de qualidade superior.27 A conclusão é inequívoca: o Esqualano vegetal entrega resultados iguais ou até melhores, sem qualquer custo ético ou ambiental.2

Esta evolução do Esqualano de cana-de-açúcar serve como um paradigma para o futuro da "beleza limpa". Ele demonstra um modelo onde ingredientes de alta performance não são mais extraídos de forma destrutiva, mas sim criados em colaboração com a biologia, utilizando matérias-primas renováveis, mudando a mentalidade de extrativista para bio-fabricação.

Tabela 1: Matriz Comparativa das Fontes de Esqualano

Critério de Comparação

Tubarão de Profundidade

Azeitona

Cana-de-Açúcar

Método de Obtenção

Caça e extração do óleo do fígado

Prensagem de óleo e extração da fração insaponificável

Fermentação biotecnológica da sacarose

Impacto Ambiental

Extremamente alto: sobrepesca, ameaça de extinção, destruição de ecossistemas marinhos

Baixo a moderado: depende de práticas agrícolas e uso de água/terra

Muito baixo: alta eficiência de uso da terra, fonte renovável, práticas sustentáveis certificadas

Implicações Éticas

Crueldade animal direta e em larga escala

Nenhuma

Nenhuma

Status Vegano

Não Vegano

Vegano

Vegano

Sustentabilidade

Inexistente (recurso finito e vulnerável)

Renovável, mas com variabilidade de safra e clima

Altamente renovável e estável

Escalabilidade/Eficiência

Limitada pela população de tubarões

Moderada, dependente de colheitas

Muito alta, processo industrial controlado e escalável


Capítulo 4: O Guia Definitivo do Consumidor Vegano

Para o consumidor vegano, identificar a origem do Esqualano em um produto cosmético pode ser um desafio. A falta de regulamentação específica sobre a rotulagem da fonte do ingrediente transfere a responsabilidade da verificação da indústria para o consumidor. Este capítulo oferece um guia prático para navegar nesta complexidade e fazer escolhas informadas e seguras.


4.1. Decifrando o Rótulo: O Desafio do INCI

A Nomenclatura Internacional de Ingredientes Cosméticos (INCI) é o sistema padronizado para listar os ingredientes em rótulos de cosméticos em todo o mundo. De acordo com esta nomenclatura, o nome oficial do ingrediente é simplesmente SQUALANE, independentemente de sua origem.12

Esta é a principal armadilha para o consumidor: a palavra "SQUALANE" na lista de ingredientes é ambígua. Ela não fornece qualquer informação se a molécula foi derivada de fígado de tubarão, azeitonas, cana-de-açúcar ou outra fonte vegetal.17 Portanto, a simples leitura da lista INCI é insuficiente para garantir que um produto seja vegano.


4.2. Sinais Positivos: Como Identificar o Esqualano Vegano

Felizmente, existem várias maneiras de verificar a origem do Esqualano e garantir uma compra alinhada aos princípios veganos.

  • Declarações Explícitas na Embalagem: A forma mais direta e transparente é quando a própria marca especifica a origem do ingrediente na embalagem, em seu site ou em materiais de marketing. Procure por termos como:
  • "Esqualano Vegetal"
  • "100% Plant-Derived Squalane"
  • "Phytosqualane" 10
  • "Esqualano de Oliva" ou "Olive Squalane" 34
  • "Esqualano de Cana-de-Açúcar" ou "Sugarcane-Derived Squalane"
  • O Poder das Certificações Veganas: A maneira mais segura e confiável de garantir a procedência de um produto é procurar por selos de certificação de organizações independentes e respeitadas. Em um mercado com informações assimétricas, esses selos funcionam como uma "linguagem de confiança", terceirizando o trabalho de verificação e oferecendo um atalho informacional seguro para o consumidor.
  • Selo Vegano da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira): Este selo nacional garante que o produto certificado não contém ingredientes de origem animal e que nem o produto final nem seus componentes foram testados em animais.35
  • The Vegan Society Trademark: É o selo vegano mais antigo e reconhecido internacionalmente, seguindo critérios rigorosos semelhantes aos da SVB.37
  • Outros selos, como o da PETA (Cruelty-Free and Vegan), também são indicadores confiáveis.

4.3. A Postura Proativa: Quando a Dúvida Persiste

Se a embalagem e o site não fornecerem informações claras, o consumidor deve adotar uma postura proativa.

  • Investigue a Marca: Visite o site oficial da marca e procure por seções como "Nossa Filosofia", "Sustentabilidade" ou "FAQ (Perguntas Frequentes)". Marcas genuinamente comprometidas com a ética e a transparência geralmente divulgam suas práticas de fornecimento de forma clara.7
  • Contate o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC): A abordagem mais direta é entrar em contato com a marca por e-mail, telefone ou redes sociais. Faça uma pergunta específica e clara, como: "Gostaria de saber qual é a origem do Esqualano (INCI: SQUALANE) utilizado no produto [nome exato do produto]. É de origem vegetal ou animal?".4
  • Desconfie da Falta de Transparência: Uma marca que se recusa a responder, oferece uma resposta vaga ou não consegue garantir a origem de seus ingredientes deve ser tratada com ceticismo. A falta de transparência é, muitas vezes, um sinal de alerta.39

Tabela 2: Guia Rápido de Verificação para o Consumidor Vegano

Passo

Ação

Resultado Seguro (Vegano)

Próximo Passo (se incerto)

1. Verifique o Rótulo

Procure por selos de certificação vegana (SVB, The Vegan Society, PETA).

Sim. O produto é certificado e seguro para consumo.

Se não houver selo, vá para o Passo 2.

2. Leia a Descrição

Leia a embalagem e a descrição do produto no site da marca.

A marca especifica "Esqualano Vegetal", "Phytosqualane", "Derivado de Cana-de-Açúcar/Oliva" ou declara ser "100% Vegano".

Se a informação for vaga ou ausente, vá para o Passo 3.

3. Pesquise a Marca

Visite o site da marca e investigue suas políticas de sustentabilidade e sourcing de ingredientes.

A marca tem uma política clara e pública de não usar ingredientes de origem animal.

Se a política não for clara, vá para o Passo 4.

4. Contate a Marca

Envie um e-mail ou mensagem direta para o SAC da empresa perguntando a origem do Esqualano.

A marca responde prontamente e confirma que a origem é 100% vegetal.

Se a marca não responder ou der uma resposta evasiva, vá para a Conclusão.

Conclusão

Tome a decisão de compra.

Compre apenas se a origem vegetal for confirmada em um dos passos acima.

Na dúvida, não compre. Opte por marcas que oferecem total transparência.


Capítulo 5: O Cenário Atual - Mercado, Legislação e Responsabilidade Corporativa

O mercado de Esqualano está em um ponto de inflexão, impulsionado pela demanda do consumidor por produtos éticos e sustentáveis. Esta mudança está remodelando as cadeias de suprimentos globais e forçando as empresas a adotarem maior transparência, mesmo na ausência de legislação específica.


5.1. Tendências de Mercado: A Ascensão Imparável do Esqualano Vegetal

Dados de mercado confirmam uma tendência clara: a sustentabilidade não é mais um nicho, mas sim um poderoso motor de crescimento econômico. O mercado global de Esqualeno/Esqualano está projetado para atingir valores de bilhões de dólares, com uma taxa de crescimento anual composta significativa.41

Dentro deste mercado em expansão, a mudança de paradigma é evidente. O segmento de Esqualano de origem vegetal é o que mais cresce, enquanto o de origem animal enfrenta estagnação ou declínio, pressionado por regulamentações de pesca mais rígidas e pela aversão do consumidor.19 A economia e a ética estão se alinhando: a demanda por produtos "limpos" incentivou a inovação em biotecnologia, que por sua vez criou uma alternativa escalável e de custo competitivo, tornando a opção eticamente correta também a mais economicamente viável. Regiões como a Ásia-Pacífico, que historicamente eram grandes consumidoras de Esqualano de tubarão, estão passando por uma rápida transição para alternativas sustentáveis.17

No Brasil, o cenário é promissor. O país não só é um mercado consumidor crescente para cosméticos com Esqualano vegetal, como também é um polo de produção, com a empresa Amyris operando uma fábrica para produzir Esqualano a partir da cana-de-açúcar brasileira.29 Diversas marcas nacionais e internacionais com forte presença no país, como Biossance, Simple Organic e Dailus, já utilizam e promovem ativamente o Esqualano de origem vegetal em seus produtos.44


5.2. Estudo de Caso: Marcas e seus Posicionamentos

A postura das empresas em relação à origem do Esqualano varia, refletindo diferentes níveis de compromisso com a sustentabilidade.

  • Pioneiras Veganas: Marcas como a Biossance construíram toda a sua identidade em torno do Esqualano sustentável derivado da cana-de-açúcar. Elas demonstram como a ética e a transparência podem ser pilares centrais e bem-sucedidos de uma estratégia de marca, educando ativamente o consumidor sobre os benefícios da sua fonte.44
  • Grandes Corporações em Transição: Conglomerados globais foram atores cruciais nesta mudança.
  • L'Oréal: A empresa afirma publicamente que todo o Esqualano utilizado em seus produtos é 100% de origem biológica (azeite e cana-de-açúcar), tendo abandonado completamente as fontes animal e petroquímica. A L'Oréal também destaca a superioridade em eficiência da fonte de cana-de-açúcar.28
  • Unilever: Após a campanha da Oceana em 2008-2009, a Unilever se comprometeu a eliminar o Esqualano de tubarão de suas marcas, como Pond's e Dove, alinhando a prática às suas metas corporativas de sustentabilidade.14
  • Outras Corporações (Estée Lauder, P&G, Coty): Embora declarações explícitas sobre a fonte de Esqualano não estejam sempre disponíveis para todas as marcas desses conglomerados, a pressão da indústria e suas políticas gerais de sustentabilidade e fornecimento responsável indicam uma tendência de afastamento de fontes controversas.50 A ausência de uma declaração clara, no entanto, reforça a necessidade de o consumidor investigar caso a caso.

5.3. A Lacuna na Legislação

A legislação de rotulagem de cosméticos no Brasil, regulamentada pela ANVISA, foca na segurança do consumidor, exigindo a lista de ingredientes no padrão INCI e advertências de uso. No entanto, não há uma exigência legal específica para que as empresas declarem a origem (animal, vegetal ou sintética) de um ingrediente como o Esqualano.53 Da mesma forma, a regulamentação do MAPA se aplica a produtos de origem animal embalados para consumo alimentar, não abrangendo ingredientes cosméticos.54

Essa lacuna regulatória cria um ambiente onde alegações vagas podem prosperar, aumentando o risco de greenwashing. Sem uma obrigação legal de transparência, a responsabilidade recai sobre a vigilância do consumidor e a credibilidade de certificações de terceiros. A batalha pelo Esqualano é, em sua essência, uma batalha contínua pela transparência na indústria da beleza.


Conclusão: Beleza Consciente e o Futuro do Esqualano

A jornada do Esqualano encapsula uma transformação notável na indústria da beleza: de um segredo cruel extraído das profundezas do oceano a um triunfo da biotecnologia sustentável. A análise demonstra que as alternativas vegetais, especialmente as derivadas da cana-de-açúcar por meio da fermentação, não representam um compromisso em termos de eficácia. Pelo contrário, oferecem a mesma, e por vezes superior, performance cosmética, mas sem o devastador custo ético e ambiental associado à caça de tubarões.

O poder para consolidar essa mudança reside, inequivocamente, nas mãos do consumidor informado. Este relatório buscou armar a comunidade vegana com o conhecimento necessário para decifrar rótulos, questionar marcas e fazer escolhas conscientes. Cada compra de um produto que utiliza Esqualano vegetal certificado não é apenas um ato de consumo, mas um voto explícito por um oceano mais saudável, por práticas industriais mais responsáveis e por uma indústria da beleza que valoriza a compaixão tanto quanto a performance.

A história do Esqualano oferece uma visão otimista para o futuro. Ela serve como um modelo poderoso, provando que a inovação científica, impulsionada pela demanda ética, pode criar soluções que beneficiam a pele, os animais e o planeta. À medida que a tecnologia avança e a conscientização do consumidor cresce, a expectativa é que mais ingredientes de origem animal sejam substituídos por alternativas sustentáveis e de alto desempenho, garantindo que a beleza do futuro seja, em sua essência, verdadeiramente limpa, ética e compassiva.

Fontes:

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  2. Esqualano Vegetal: O Hidratante Inteligente e Sustentável para sua Pel - The Oil Shop, accessed August 19, 2025, https://theoilshop.com.br/blogs/
  3. Esqualano vegetal: cuidado sustentável e eficaz para a pele - Noorskin, accessed August 19, 2025, https://www.noorskin.com.br/blog/esqualano-vegetal/
  4. The Truth Behind One of the Cosmetic Industry's Deadliest Ingredients: Squalane - Axiology Beauty, accessed August 19, 2025, https://axiologybeauty.com/
  5. Esqualeno – Wikipédia, a enciclopédia livre, accessed August 19, 2025, https://pt.wikipedia.org/wiki/Esqualeno
  6. Conhecendo o ingrediente Esqualano - ESPIRAL DE ERVAS, accessed August 19, 2025, https://espiraldeervas.com.br/conhecendo-o-ingrediente-esqualano/
  7. Esqualano Vegetal: o que é e para que serve? - QUINTAL Dermocosméticos, accessed August 19, 2025, https://quintal-lab.com/blogs/quintal/esqualano-vegetal-o-que-e-e-para-que-serve
  8. Esqualano ou Esqualeno? - Simple Organic, accessed August 19, 2025, https://simpleorganic.com.br/blogs/simple-blog/esqualano-esqualeno
  9. Esqualano Vegetal - 13:20:HUB, accessed August 19, 2025, https://1320hub.com.br/beautypedia/ingredientes/esqualano-vegetal/
  10. Esqualano: o que é e quais seus benefícios - Ollie, accessed August 19, 2025, https://meuollie.com.br/blogs/blog-da-ollie/esqualano-o-que-e-e-quais-seus-beneficios
  11. Squalane - Wikipedia, accessed August 19, 2025, https://en.wikipedia.org/wiki/Squalane
  12. SQUALANE - SpecialChem, accessed August 19, 2025, https://www.specialchem.com/cosmetics/inci-ingredients/squalane
  13. Shark Squalene - Oceana USA, accessed August 19, 2025, https://usa.oceana.org/shark-squalene/
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  15. What Is Squalene? Why Is It Controversial? - Treehugger, accessed August 19, 2025, https://www.treehugger.com/what-is-squalene-5200471
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  21. Unilever to End Use of Shark Products in Cosmetics - Oceana, accessed August 19, 2025, https://oceana.org/press-releases/unilever-end-use-shark-products-cosmetics/
  22. ▷ Esqualeno: o segredo do azeite | Balam, accessed August 19, 2025, https://balam.es/pt/esqualeno-o-segredo-do-azeite/
  23. Esqualano: Benefícios, Usos e Origens Naturais | WESTWING, accessed August 19, 2025, https://www.westwing.com.br/guiar/esqualano/
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