Como o "teste da imparcialidade" pode ser aplicado às nossas decisões sobre os animais?
O "teste da imparcialidade" é um método para determinar se uma decisão é justa, exigindo que se imagine o que decidiríamos se não soubéssemos qual posição ocuparíamos entre os afetados pela decisão (ou seja, por trás de um "véu da ignorância"). Se aplicado às decisões que afetam os animais, isso implica imaginar que não saberíamos se nasceríamos como humanos ou como animais não humanos.
Sob essas condições, o teste sugere que:
- A exploração animal (para alimento, vestuário, testes, entretenimento) seria considerada altamente injusta, pois ninguém aceitaria ser submetido a tal sofrimento e morte para o benefício de outros.
- O especismo em geral seria rejeitado, pois dar consideração maior aos humanos seria arbitrário se não soubéssemos a qual espécie pertenceríamos.
- A negligência em relação ao sofrimento de animais selvagens (fome, sede, doenças) seria reprovada, e recursos seriam direcionados para ajudá-los, assim como faríamos com humanos.
- A importância da "causa animal" seria elevada, pois, dada a vasta quantidade de animais não humanos no mundo (quintilhões vs. bilhões de humanos), a probabilidade de nascer como um animal não humano seria esmagadora.
- A prevenção de sofrimento em gerações futuras de seres sencientes (orgânicos ou não orgânicos) receberia alta prioridade.
Em suma, o teste da imparcialidade revela que muitas de nossas atitudes em relação aos animais são injustas e baseadas em preconceitos de espécie.

Fonte: colecao-uma-jornada-pela-etica-animal-livro-2-considerando-os-seres-sencientes.pdf
Este texto, parte da "Coleção Uma Jornada pela Ética Animal", Volume II: "Considerando os Seres Sencientes", de Luciano Carlos Cunha, aprofunda a fundamentação da ética animal centrada na senciência. O autor explora por que a senciência—a capacidade de ter experiências, positivas e negativas—é o critério moral relevante, em contraste com características como espécie ou cognição. A obra detalha como identificar a senciência por meio de indicadores fisiológicos, comportamentais e evolutivos, e defende o princípio da igual consideração para todos os seres sencientes, rejeitando o especismo como uma forma de discriminação. Adicionalmente, o livro aborda a aplicação do teste da imparcialidade para reavaliar a exploração animal, a importância da causa animal e a necessidade de dar o benefício da dúvida à senciência em contextos de incerteza, reforçando a urgência de transformar nossa relação com os animais.
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