A conexão psicológica com o futuro é um fator determinante para a magnitude do dano da morte, especialmente para animais não humanos?
Não, a conexão psicológica com o futuro não parece ser um fator determinante para a magnitude do dano da morte. A ideia de que seres com pouca complexidade cognitiva (como animais não humanos ou crianças pequenas) teriam uma conexão psicológica fraca com o futuro, e, portanto, seriam menos prejudicados pela morte, é desafiada em dois níveis.
Primeiro, é questionável se seres com menores capacidades cognitivas possuem pouca conexão psicológica. Se a conexão psicológica for medida pela proporção de conteúdos mentais em comum entre diferentes instantes (e não pela quantidade absoluta), é possível que seres cognitivamente menos complexos mantenham uma proporção maior de seus conteúdos mentais, estando, assim, mais fortemente conectados psicologicamente aos seus futuros.
Segundo, e mais crucial, há contraexemplos que desafiam a ideia de que a força das razões prudenciais (para evitar eventos negativos ou buscar positivos) dependa do grau de conexão psicológica. No "Caso do Mal Maior", uma pessoa escolheria uma dor menos intensa mesmo que ela ocorresse antes de uma perda total de conexão psicológica, indicando que a intensidade do sofrimento é mais relevante do que a conexão. Da mesma forma, no "Caso do Bem Maior", uma criança preferiria uma viagem mais prazerosa na idade adulta, mesmo que sua conexão psicológica com seu "eu infantil" fosse fraca, sugerindo que o potencial de experiências positivas é mais importante.
Esses exemplos indicam que o que importa para a força das razões prudenciais é o quão bom ou ruim seria o evento em si, e não o grau de conexão psicológica. Portanto, um indivíduo pode ser gravemente prejudicado com a morte pela perda de experiências positivas, independentemente de sua conexão psicológica com o futuro.

Fonte: COLEÇÃO UMA JORNADA PELA ÉTICA ANIMAL DO BÁSICO AO AVANÇADO VOLUME 3
O texto, "Os Animais e o Dano da Morte," de Luciano Carlos Cunha, é o Volume III da coleção "Uma Jornada pela Ética Animal," que investiga a ética animal do básico ao avançado. A obra se aprofunda na questão do dano da morte para animais não humanos, examinando as condições sob as quais a morte é prejudicial e como sua magnitude deve ser avaliada. Cunha refuta a visão epicurista de que a morte nunca é um dano, argumentando que ela é prejudicial por impedir experiências positivas, e critica a ideia de que a complexidade cognitiva ou a capacidade de planejar o futuro são necessárias para que a morte seja um dano significativo. O livro também discute objeções à avaliação do dano da morte por meio de "Anos de Vida Ajustados pela Qualidade (AVAQs)" e desafia a noção de que animais são substituíveis ou que humanos são inerentemente mais prejudicados pela morte, propondo que a intensidade do dano deve ser considerada independentemente da espécie para uma ética mais imparcial.
- Acessos 35