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A suposta maior magnitude do dano da morte para humanos justifica as práticas comuns de matar e não salvar animais não humanos?

Não, mesmo que se assumisse (apenas para argumentar) que os humanos são mais prejudicados pela morte do que os animais não humanos, isso não justificaria as práticas comuns de matar ou de negligenciar a salvação das vidas de animais não humanos.

  1. Dano Menor não Implica Dano Irrelevante: Se A é mais prejudicado que B pela morte, isso apenas significa que há razões mais fortes contra matar A. Não significa que não haja razões fortes contra matar B, ou que essas razões sejam fracas. Pelo contrário, se animais sencientes são "bastante prejudicados" pela morte (como defendido nos capítulos anteriores), existem fortes razões diretas contra matá-los e para salvar suas vidas. As práticas de consumo e experimentação animal, por exemplo, não são sobre salvar vidas e frequentemente causam sofrimento extremo, o que é inaceitável independentemente da comparação com o dano da morte para humanos.
  2. Variabilidade do Dano da Morte em Humanos: O dano da morte varia muito entre os próprios humanos (crianças versus idosos, vidas de bem-estar versus sofrimento). No entanto, não se justifica matar um humano para salvar outro, mesmo que este último fosse mais prejudicado pela morte.
  3. Fator do Número de Vítimas: Um fator crucial frequentemente ignorado é o número de indivíduos que poderiam ser salvos. Mesmo que um humano fosse 100 vezes mais prejudicado pela morte do que um animal não humano (uma concessão extremamente generosa), salvar 101 animais não humanos seria eticamente preferível, pois o benefício total seria maior. Desconsiderar o número de vítimas exigiria uma justificativa não óbvia e arbitrária.
  4. Ausência de Status Moral Diferenciado Justificável: A ideia de que humanos possuem um "status especial" (dignidade) que os protegeria mesmo quando fossem menos prejudicados pela morte é criticada. Essa "Tese do Status" é vista como circular (justifica-se a dignidade pela intuição, e a intuição pela dignidade) e tendenciosa. Submetida a um "teste de imparcialidade" (imaginar-se em uma "posição original" sem saber a qual espécie se pertenceria), a Tese do Status provavelmente seria rejeitada devido à vasta quantidade de animais não humanos no mundo. Portanto, a força das razões contra matar e para salvar vidas deve depender unicamente da magnitude do dano da morte.

Em suma, as práticas comuns em relação aos animais não são justificadas nem pela suposta menor magnitude do dano da morte para eles, nem por um status moral diferenciado que não resiste ao escrutínio imparcial.



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Fonte:  COLEÇÃO UMA JORNADA PELA ÉTICA ANIMAL DO BÁSICO AO AVANÇADO VOLUME 3
O texto, "Os Animais e o Dano da Morte," de Luciano Carlos Cunha, é o Volume III da coleção "Uma Jornada pela Ética Animal," que investiga a ética animal do básico ao avançado. A obra se aprofunda na questão do dano da morte para animais não humanos, examinando as condições sob as quais a morte é prejudicial e como sua magnitude deve ser avaliada. Cunha refuta a visão epicurista de que a morte nunca é um dano, argumentando que ela é prejudicial por impedir experiências positivas, e critica a ideia de que a complexidade cognitiva ou a capacidade de planejar o futuro são necessárias para que a morte seja um dano significativo. O livro também discute objeções à avaliação do dano da morte por meio de "Anos de Vida Ajustados pela Qualidade (AVAQs)" e desafia a noção de que animais são substituíveis ou que humanos são inerentemente mais prejudicados pela morte, propondo que a intensidade do dano deve ser considerada independentemente da espécie para uma ética mais imparcial.
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