Por que a exploração animal é considerada injusta, mesmo sob diferentes justificativas?
A exploração animal é considerada injusta porque viola princípios éticos fundamentais, como o da igual consideração e o teste da imparcialidade, e não pode ser justificada por argumentos comuns.
Primeiro, ela viola o princípio da igual consideração: atribuir pesos diferentes a prejuízos e benefícios de magnitudes similares com base na espécie é uma forma de preconceito (especismo), análoga ao racismo ou sexismo. Por exemplo, o consumo animal impõe a perda da vida e uma existência de sofrimento aos animais, enquanto a alternativa vegana requer que os humanos apenas mudem sua alimentação. A maioria das pessoas preferiria ser um humano vegano a um animal explorado. Isso demonstra que a exploração animal atribui um peso menor aos prejuízos dos animais, mesmo quando esses prejuízos são maiores.
Segundo, a exploração animal não passa no teste da imparcialidade. Se os indivíduos que a defendem não soubessem que posição ocupariam (se seriam humanos beneficiados ou animais prejudicados), ou se os papéis fossem invertidos, a prática seria universalmente rejeitada. Isso indica que a defesa da exploração é tendenciosa e baseada na certeza de que não se será a vítima.
Argumentos como "é natural", "acaba com o sofrimento deles", "os faz existir", "preserva espécies" ou "é necessário para a economia/saúde" são refutados porque:
- Naturalidade: o fato de algo ser "natural" (possível, instintivo, feito por outros animais, parte da cadeia alimentar) não o torna moralmente justificável. Comportamentos naturais em outras espécies (roubo, estupro) não são considerados aceitáveis para humanos. Além disso, os humanos criam a "superpopulação" de animais domésticos para consumo, e há alternativas como a esterilização para controle populacional.
- Acabar com o sofrimento: alegar que o consumo beneficia os animais ao livrá-los de uma vida de sofrimento é contraditório, pois o consumo incentiva a reprodução de mais animais para o mesmo destino. Existem alternativas para reduzir o sofrimento de animais selvagens, como programas de contracepção ou modificação ambiental para promover vidas positivas.
- Fazê-los existir: a "defesa da substituição" argumenta que o consumo de animais os beneficia ao trazê-los à existência. No entanto, muitos animais criados para consumo vivem vidas de intenso sofrimento. Além disso, causar um benefício (a existência) não justifica causar um malefício (a morte e o sofrimento), e a morte priva os animais de experiências positivas. Não nascer não é um prejuízo para um indivíduo que nunca existiu, diferentemente de matar um ser já existente.
- Preocupação com espécies: a ideia de que o consumo preserva espécies domesticadas é falha. Espécies são entidades abstratas e não sencientes, não podendo ser prejudicadas ou beneficiadas. Priorizar a preservação de uma espécie em detrimento do sofrimento de bilhões de indivíduos sencientes é eticamente problemático. Além disso, a abolição do consumo não implicaria o desaparecimento dessas espécies, apenas a cessação de sua criação em massa.

Fonte: COLEÇÃO UMA JORNADA PELA ÉTICA ANIMAL DO BÁSICO AO AVANÇADO VOLUME 4
Este livro, "O Debate Sobre a Exploração Animal" de Luciano Carlos Cunha, Volume IV da coleção "Uma Jornada pela Ética Animal: Do Básico ao Avançado", oferece uma análise aprofundada da exploração animal por humanos. A obra detalha as condições de vida e morte de animais explorados para consumo, como galinhas, porcos, vacas e uma vasta gama de animais aquáticos e insetos, submetidos a sofrimento intenso e mutilações sem anestesia. Além de descrever a realidade da exploração, o autor examina criticamente os argumentos que buscam justificar essas práticas, desafiando noções como a superioridade humana, a cadeia alimentar, o instinto, a superpopulação e a ideia de que o consumo animal seria necessário para a continuidade de certas espécies, enquanto defende a senciência de todos os animais como a base para sua consideração moral.
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