Como a ética da senciência explica danos que não afetam as experiências, como um abuso sofrido por alguém inconsciente?
É importante diferenciar o critério de consideração moral (quem importa) das teorias do bem-estar (o que é bom ou ruim para esses indivíduos).
Pense da seguinte forma: o critério de consideração moral decide quem pode entrar no hospital (quem importa), enquanto as teorias do bem-estar diagnosticam qual é a doença e o tratamento (o que é bom ou ruim para eles).
O critério da senciência estabelece quem importa: a vítima do abuso importa porque é um ser senciente. Se fosse um objeto inanimado, não haveria prejuízo. A natureza do dano pode ser explicada por fatores compatíveis com a senciência, mas que não se limitam a experiências diretas. Por exemplo, o dano pode ser explicado como uma violação das preferências do indivíduo (as preferências que ele teria se estivesse consciente). Aceitar a senciência como o critério para quem devemos considerar não obriga a aceitar uma visão puramente hedonista do bem-estar. São debates distintos.

Fonte: COLEÇÃO UMA JORNADA PELA ÉTICA ANIMAL DO BÁSICO AO AVANÇADO VOLUME 6
Este livro, parte da "Coleção Uma Jornada pela Ética Animal: Do Básico ao Avançado", dedica-se ao critério da senciência como fundamento para a consideração moral. O autor, Luciano Carlos Cunha, argumenta que a capacidade de ter experiências positivas e negativas (senciência) é o que realmente importa para decidir a quem devemos consideração moral, contrastando com visões antropocêntricas ou biocêntricas. A obra desmistifica a ideia de que a senciência é antropocêntrica e explora diversas objeções a este critério, como a alegação de que ele não aborda danos sem sofrimento ou exclui insetos, defendendo que tais críticas são equivocadas. Em última análise, o texto propõe que a senciência é a base mais coerente para uma ética animal que busca minimizar o sofrimento e maximizar o bem-estar dos indivíduos.
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