O vegetarianismo como hábito alimentar, associado
a uma distribuição econômica mais justa e eficiente,
contribui para diminuir a privação por alimento nas
populações menos privilegiadas que sentem fisiologicamente
esta carência. Isto pode ser comprovado pela produção
mundial de grãos que serve para alimentar a pecuária,
desperdiçando enormes quantidades de funções
nutricionais que poderiam ser muito melhor aproveitadas caso fossem
diretamente distribuídos para abastecer a população
humana.
Produção dos alimentos
Fomentar a produção de animais de corte
exige gastos alarmantes quando reunimos informações
a fim de minimizar os impactos globais e gerar uma melhoria no sistema
compartilhado de distribuição dos alimentos. Para se
ter uma idéia quantitativa do que se produz de alimentos de
origem animal e vegetal, o déficit pode ser superior a 150
vezes quando comparados, por exemplo, a produção bovina
com a produção de milho. Este dado é válido
para uma mesma quantidade de terra (4 hectares) e mesmo intervalo
de tempo de colheita ou corte (5 anos). Para este cálculo
não é considerado o número de safras que podem
ser obtidas anualmente, tendendo a aumentar ainda mais a vantagem
na produção dos alimentos vegetais.
Figura 1 – Desproporção na produção
dos alimentos vegetais e animais.
A figura acima, compara a produção em quantidade
de quilos de vários alimentos vegetais com a carne bovina,
decorrente de uma produção de igual valor no espaço
e no tempo.
Necessidade protéica
Levando-se em consideração os aspectos nutricionais
de cada um destes alimentos, mais especificamente o índice
protéico, é possível obter em média
a quantidade efetiva que cada uma destas safras ou corte teria
de proteína. Isto significa que, tanto em quantidade como
em qualidade, a produção de alimentos vegetarianos
supera e possui muito maior proveito em relação às
expectativas que são alimentadas pelos animais de corte.
Figura 2 – Diferença na safra de proteínas
na comparação dos alimentos vegetais e animais.
Essa deficiência produtiva na qualidade e na quantidade
dos alimentos de origem animal encarece o desgaste ambiental como
também provoca uma denúncia em relação
aos problemas sócio-econômicos.
Tudo isso se deve ao fato de que a maior
parcela dos alimentos em grãos e cereais são destinados ou desviados para
atender o comércio da pecuária, sendo responsável
diretamente por cerca de 70% em média do consumo destes
alimentos.
Consumo alimentar
Tomando-se por base estes mesmos dados, podemos
estender a necessidade de consumo de um homem, por exemplo, de
70kg. Sua exigência
nutricional requer em média cerca de 70g de proteína
por dia. Com esta quantidade gerada de proteínas na safra
produtiva destes alimentos poderíamos suprir proteicamente
com feijão este homem durante quase 75 anos, ou com milho
durante mais de 130 anos. A soja é o alimento que mais poderia
atender esta demanda a longo prazo, sendo superior a 400 anos de
suprimento protéico. Para a carne bovina, os 121kg de proteína
adquirida no mesmo espaço e tempo de produção
acarretaria um período relativamente curto de 5 anos de
atendimento protéico para alimentá-lo. Ou seja, a
produção de carne é onerosa, desgastante e
um tanto prejudicial no que diz respeito ao desperdício
que ela gera. Isto, sem levar em conta os impactos gerados ambientalmente
provocados pela produção dos animais de corte.
Figura 3 – Período estimado possível de consumo
das necessidades protéicas para os alimentos vegetais e
animal.
Estes dados comprovam a capacidade que os
alimentos de origem vegetal possuem na oferta por quantidade
e qualidade nutricional. Caso estes alimentos pudessem ser produzidos
para atender a demanda daqueles subnutridos, certamente os restos
de comida não
seriam tão recolhidos como é hoje nos lixões
pelas pessoas que passam fome.
Estimativa de pessoas alimentadas proteicamente
Os dados comprovam a relação proporcional e o benefício
econômico e social gerado na preferência pelo consumo
de alimentos vegetais no combate a fome. Isto pode ser confirmado
a partir do número de pessoas que poderiam ser alimentadas
proteicamente utilizando-se os mesmos critérios de exigência
nutricional por indivíduo, igualdade na distribuição
econômica, espaço e tempo de produção.
A figura adiante representa o número de pessoas alimentadas
com qualidade protéica segundo o tipo de alimento. Embora
a carne bovina seja um alimento de alto valor protéico,
sua produção é considerada dispendiosa quando
relacionamos ou estendemos sua capacidade produtiva no decorrer
do tempo. A quantidade de nutrientes da carne distribuída
temporalmente torna-se inviável e impraticável quando
se tem como objetivo diminuir a carência por alimento. Ressalta-se
que as diretrizes sobre a ingestão de proteínas indicam
um percentual de 10% do valor calórico total como proteínas.
Figura 4 – Número de pessoas atendidas por alimentos
vegetais e carne bovina conforme capacidade suporte de proteínas.
Assim sendo, o consumo por alimentos de origem
animal, particularmente a carne proveniente da pecuária, além de causar um
desperdício funcional devido à má distribuição
dos alimentos, é resumida aqui como sendo também
um dos fatores responsáveis pelo aumento do “flagelo
da fome” no mundo.
Tabela quali-quantitativa de produção e período
de consumo estimado para alimentos vegetais e a carne bovina:
|
Kg |
cal/100g |
gramas
de proteína |
%
proteína dentro
do valor calórico |
Kg
de
proteína |
anos |
n.
pessoas alimentadas* |
Milho |
34.000 |
365 |
9,4 |
10% |
3.366 |
132 |
48.086 |
Soja |
32.000 |
416 |
36,5 |
33% |
10.464 |
410 |
149.486 |
Arroz |
19.000 |
359 |
8,0 |
9% |
1.691 |
66 |
24.157 |
Feijão |
8.000 |
336 |
20,0 |
24% |
1.880 |
74 |
26.857 |
Carne bovina |
210 |
330 |
36,0 |
58% |
121 |
5 |
1.730 |
(*) refere-se a uma alimentação que
possa suprir as exigências protéicas
Agradecimentos especiais ao Dr. Eric Slywitch,
pela colaboração
no cálculo de proteínas.
Referências consultadas:
EARTH SAVE FOUNDATION (1992). Our Food Our World. The Realities
of an Animal-Based Diet, Santa Cruz/EUA, 1992.
FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação).
Relatório Anual. Dados disponíveis em: www.fao.org.
Acesso em 23 dez 2006.
IBGE (2000). Censo 2000. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.
Brasil, 2000.
OHNUMA JR., A. A. (2004). Elementos de um Hábito (In)Sustentável.
Apresentado no 36° Congresso Vegetariano Mundial. Sociedade
Vegetariana Brasileira. Florianópolis, 8-14 nov. 2004.
SLYWITCH, E. (2006). Alimentação sem carne – guia
prático. www.alimentacaosemcarne.com.br
TACO (2006). Tabela Brasileira
de Composição de
Alimentos. Universidade de Campinas. Núcleo de Pesquisas
em Alimentação. NEPA/UNICAMP. Disponível em:
http://www.unicamp.br/nepa/taco/contar/taco_versao2.pdf. Acesso
em 23 dez 2006. Versão 2. Segunda Edição.
Campinas/SP.
WINCKLER, M. (2004). Fundamentos
do vegetarianismo. Parecer da Associação Dietética Americana sobre Dietas
vegetarianas. Rio de Janeiro/RJ. Editora Páginas Amarelas.
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