Entrevista com Caroline Bergerot
Acho importante, sim, haver a suplementação da vitamina B12, no caso dos vegetarianos restritos (veganos) uma vez que não a encontramos em fontes vegetais – não estão incluídos, é claro, os ovo-lacto-vegetarianos. Caroline Bergerot é paulistana, escritora e autora de 23 livros pela Editora Cultrix. Formada em Nutrição e especializada em Nutrição Clínica, direciona seus estudos à oncologia – seu mais recente livro aborda o tema. É vegetariana há 18 anos e faz parte do corpo técnico da ONG sócio-ambiental Oca Brasil.foto: Paulo Maluhy Você é vegetariana há quanto tempo? Sou vegetariana desde os 11 anos de idade, quando minha família inteira mudou a alimentação, devido a uma conscientização sobre os benefícios de uma dieta livre de produtos derivados de animais, principalmente as carnes. Foi uma opção dos meus pais, na realidade, que sempre estudaram muita filosofia oriental e ocidental e tinham grande afinidade com a macrobiótica e com a exclusão de carnes da dieta. Na época não era uma prática muito comum, e não haviam médicos e nutricionistas especializados, como há hoje, para orientarem até que ponto crianças com menos de 11 anos conseguiria seu perfeito desenvolvimento. Hoje as coisas são diferentes, temos mais acesso às pesquisas científicas e podemos contar com ajuda de profissionais da área da saúde.E que linha do vegetarianismo você segue? Lacto, ovo-lacto, vegana...? Trabalho em cima de uma linha vegana, não incluindo nas receitas qualquer produto animal (ovos, leite e laticínios e carnes em geral). Elaboro dietas e receitas buscando sempre uma proximidade com os hábitos comuns das pessoas, uma elaboração simples e enfatizo a importância de termos à mesa pratos gostosos, bonitos, saudáveis e atraentes, sempre: mesmo para os que não compartilham da idéia de abrir mão dos produtos animais. No entanto, para uma transição alimentar, as pessoas têm que saber ir gradativamente adequando a nova dieta ao seu paladar e aos seus hábitos. Cada pessoa tem um processo e devemos sempre respeitar nossas etapas e as etapas alheias.
Você toma algum suplemento (B12, por exemplo)? Acho importante, sim, haver a suplementação da vitamina B12, no caso dos vegetarianos restritos (veganos) uma vez que não a encontramos em fontes vegetais – não estão incluídos, é claro, os ovo-lacto-vegetarianos. Porém não recomendo a auto suplementação. É muito importante que as pessoas procurem profissionais capacitados para as orientar, vegetarianos ou não, pois é de extrema importância avaliar a qualidade de nossa a dieta, principalmente, a qualidade dos alimentos que estamos ingerindo. Para meu caso especifico, faço minha dieta balanceada, procurando equilibrar a quantidade necessária de todos os nutrientes.
Quais foram os motivos que levaram você a se tornar vegetariana? Meus pais sempre estudaram muito. Minha mãe é artista plástica e filósofa, meu pai engenheiro, que acabou de lançar um livro de ficção filosófica, no qual aborda a busca de um cientista por “algo mais”. Ambos sempre se interessaram por vida saudável, e o alinhamento dos corpos – físico, emocional e mental. Em 1988, quando então eu tinha 11 anos, eles retiraram da alimentação os produtos de origem animal e buscaram adotar um estilo de vida diferente, no qual pudessem alcançar, ou pelo menos chegar perto, de tal alinhamento. A opção dos filhos – inclusive minha – de segui-los, foi voluntária e espontânea. A certeza com que eles nos passaram a idéia do vegetarianismo fez com que não sentíssemos dúvidas na escolha. Parece que você tem um forte viés espiritualista. Você gostaria de falar um pouco sobre a ligação entre a nossa natureza espiritual e o tipo de alimento que ingerimos? Um alinhamento espiritual, independentemente da opção religiosa, conta em grande parte com o estado do nosso corpo físico, mental e emocional. Uma alimentação livre de sangue e de violência contribui, e muito, para este processo, ajudando na busca de uma conscientização sobre o momento planetário. Não digo, absolutamente, que o indivíduo vegetariano seja “mais”, ou “melhor” e muito menos que consiga um plus espiritual, ou ainda que, pretensamente seja mais evoluído. Evolução e caminho espiritual são processos muito íntimos, que cada um carrega dentro de si. Fisiologicamente, conhecemos o que é termos um pedaço de carne no estômago para digerir: o processo é lento, são liberadas enzimas (dentre elas uma chamada cadaverina) para o auxilio da digestão; nos sentimos lerdos, ingerimos muita gordura saturada, o que também não é saudável; o intestino se torna preguiçoso, as fezes mais endurecidas e fétidas. Para muitos, todo esse processo pode ser adiantado, adotando uma alimentação vegetariana. Acredito muito na energia dos alimentos e a influência que podemos sofrer com ela. Antes do bife virar bife, infelizmente temos um processo muito cruel, doloroso, triste. Os animais, já no pasto, têm uma vida difícil. Não é um tratamento suave. Ao serem transportados, em caminhões, sofrem (tomam choque para não sentarem pois a carne pode escurecer); antes de serem mortos, ainda na fila, percebem o que “está se passando”! No momento de serem abatidos, escorrem lágrimas e de longe se escutam os mugidos... nessa hora o animal libera hormônios de dor e medo. E isso vai para o prato. Como já disse, cada um de nós faz suas escolhas, segue seus processos. Evidentemente não critico a opção de ninguém, pois cada um de nós tem necessidades e condutas de pensamento pessoais, mas é importante termos consciência do que estamos ingerindo e dos benefícios, ou malefícios, que determinados alimentos podem nos trazer.
Você tem um livro só com receitas à base de soja. Não é um desafio muito grande encampar um projeto como este, num país que é o maior produtor do mundo de carne bovina? Assim como somos grandes produtores de carne, somos também de soja. Atualmente as propriedades da soja estão sendo muito reconhecidas. Como alimento e como medicamento (como há séculos já são, para os orientais). A soja é uma leguminosa indubitavelmente muito rica. Possui aminoácidos e propriedades terapêuticas reconhecidamente benéficas para o organismo. Muitos produtos derivados da soja servem como substitutos de produtos animais, auxiliando e complementando refeições, não apenas nos lares vegetarianos. É crescente o número de produtos que surgem no mercado, à base de soja, auxiliando o consumidor, tanto nas cozinhas industriais como nas residenciais. Numa dieta vegetariana o uso da soja pode ser de grande auxilio e é crescente o número de pessoas (vegetarianas ou não) sobre as propriedades da soja e buscando informações de como utilizá-la. A idéia do livro é justamente dar idéias e orientar na preparação de pratos saudáveis, e – fator indispensável – saborosos.
E como é seu processo de criação das receitas? Você adapta receitas tradicionais, experimenta coisas novas, faz testes...? As receitas vegetarianas divulgadas em meus livros são resultado de idéias que surgiram a partir dos ingredientes disponíveis e dos “pedidos” dos de casa. Venho de descendência francesa, alemã e italiana, e isso, em termos de alimentação, já traz uma mistura que permite muita variedade quando somadas às nossas tradicionais e típicas receitas brasileiras. Todos em casa apreciam uma boa cozinha, encaram com competência o fogão, e isso estimula a criatividade. A vontade de criar à cada dia vários pratos novos e agradar aos meus, faz com que surjam sempre receitas diferentes e inéditas. Sem dúvida, adaptações são muitas vezes necessárias, principalmente quando se trata de orientar aqueles que estão passando por um processo de reestruturação alimentar. Encontramos aí a vontade de mudar, mas a dificuldade de se adaptar. Então, nada melhor do que partir do que já se conhece e ir fazendo as alterações dentro das necessidades, respeitando-se gostos, culturas e preferências.
Quem são os "eleitos" que saboreiam seus pratos, quando ainda estão em fase de desenvolvimento? Não tem lugar melhor para eu preparar minhas invenções que minha própria cozinha. Na verdade tenho duas cozinhas. Uma tradicional, e a outra, ao lado, que chamamos de “caipira”. Lá é lenha, panelas de ferro, de barro, de pedra...utensílios que curto muito.Os “eleitos”, que inclusive me ajudam na “aprovação”, são os que estão por perto. Convidados, familiares, secretárias... toda opinião, palpite e sugestão são bem vindos! Algum dos seus livros já se transformou em best-seller? Quando em 1999 lançamos “Cozinha Vegetariana, a saúde e bom gosto em mais de 670 receitas”, não imaginamos que se transformaria em best-seller e que teria tamanha aceitação. Continua sendo um sucesso da Editora Cultrix e me traz o ânimo de continuar transmitindo para as pessoas sugestões e idéias novas e saborosas, inclusive para os que não são adeptos a uma dieta vegetariana. Acontece de as pessoas questionarem sua opção alimentar? E, quando isso acontece, que argumentos você utiliza para defender seus pontos de vista? Olha, defender talvez não seja a palavra certa. É claro que algumas pessoas ainda ficam curiosas sobre esta opção – embora hoje o vegetarianismo não tenha a mesma conotação que tinha há alguns anos atrás. Como nutricionista, evidentemente tenho as explicações necessárias para esclarecer sobre os benefícios oferecidos ao nosso organismo por uma dieta mais leve, e rica em alimentos de origem vegetal. Não diria que são argumentos, pois em nenhuma ocasião senti a necessidade de me justificar ou mesmo discutir opções. O importante é orientar as pessoas sobre como se alimentar melhor, sendo ou não vegetarianos.
CANCER - O PODER DA ALIMENTAÇAO NA PREVENÇAO E TRATAMENTO
Autora: Caroline Bergerot Editora:
CULTRIX
Assunto:MEDICINA E SAUDE
Que mensagem você gostaria de passar para as pessoas que estão ingressando no vegetarianismo? Em primeiro lugar é importante pensarmos na necessidade de uma alimentação bem equilibrada, seja vegetariana ou não. Para isso, o acompanhamento profissional individualizado é valiosíssimo. Também no ingresso ao vegetarianismo, vemos a indispensabilidade de orientação adequada. Não é somente como “substituir a carne”, mas sim atender as exigências diárias da pessoa. Como já falei cada caso é um caso, cada um tem seu ritmo. Assim como radicalizações precipitadas podem resultar em atitudes efêmeras, sem nenhum tipo de benefício, outras propostas, que são sempre adiadas, podem nunca se realizar. Muitas vezes, a idéia do vegetarianismo chega aos poucos, suavemente. Vem quando a pessoa começa a perceber os resultados positivos ao incorporarem mais alimentos vegetais em sua dieta, como uma pele mais saudável, um cabelo mais brilhante e uma condição física melhor, mais disposição. As razões variam, os motivos são diferentes. Seja pela busca de uma melhor saúde, seja por engajamentos filosóficos ou ainda por amor aos animais, a opção tem que ser consciente e, sempre, bem orientada.
Como surgiu a idéia para o seu último livro? A idéia surgiu quando percebemos a procura das pessoas por literaturas direcionadas à doença. Porém percebemos que estamos em busca de materiais de fácil compreensão e que pudessem utilizar em seu dia-a-dia. Então foi exatamente isso que procuramos fazer: levar ao publico um trabalho sério, embasado em pesquisas, bem explicativo, ou seja, não dizemos somente quais os melhores alimentos, mas também o porquê e como incluí-los nas refeições diárias. Pessoas que estão passando pelo processo de tratamento do câncer como cirurgia, radioterapia, quimioterapia encontram auxilio neste livro? Essas pessoas, pelo o que vimos, têm um resultado muito positivo quando acompanhados nutricionalmente. Sabemos que a depressão, o uso de medicamentos e vários outros fatores, alteram muito todo o processo gastrintestinal. Com o câncer a necessidade calórica aumenta e em contrapartida a aceitabilidade diminui. É comum alguns pacientes rejeitarem, por exemplo, a proteína (principalmente carnes), e, ao mesmo tempo, sabemos que a proteína é de extrema importância na recomposição celular. No livro sugerimos alimentos e receitas, nos cardápios, que as pessoas poderão se beneficiar, junto com a opinião de seu médico.
Em que pesquisas você se baseou para estabelecer uma relação entre a alimentação e a ocorrência de câncer? Nosso trabalho não procura revolucionar nenhum tipo de tratamento conhecido. Trata-se simplesmente de uma colaboração buscada entre as propriedades nutricionais encontradas nos vegetais, para auxiliar na prevenção e no tratamento da doença. É sempre importante repetir que cada caso é um caso e que o acompanhamento conjunto do médico e do nutricionista são indispensáveis. As pesquisas e trabalhos científicos que nos acompanharam encontram-se nas constantes referências citadas e nas noventa e nove obras relacionadas na bibliografia. Usamos uma linguagem atual, para leigos, para pessoas que querem viver melhor e não necessariamente para profissionais, optando portanto não por uma linguagem científica, justamente para que todos os tipos de leitores possam acompanhar Como sabemos, não existem regras absolutas para o tratamento ou a prevenção da doença, mas existem possibilidades de se buscar auxílios valiosos em ambos os casos. Para quem está em tratamento, sugerimos levar o livro ao seu médico para que haja um aconselhamento especial para seu caso.
O que inspirou você para a elaboração do livro? Algum caso de câncer que tenha afetado uma pessoa próxima, a leitura de alguma obra em especial? Foi a observação do crescente número de casos de câncer. Atenta a cada noticia, a cada reportagem, a cada relato e depoimento de pessoas que têm ou tiveram essa doença, fui percebendo a falta de informação sobre a contribuição encontrada nos alimentos, tanto na prevenção quanto como elemento participante do tratamento. É muito comum vermos pessoas em tratamento que, com uma alimentação direcionada, específica para o caso, podem ter uma nova disposição, receber uma colaboração inestimável. A união do nutricionista com o médico, sem dúvida pode oferecer grandes resultados positivos para o paciente. Dê-nos alguns exemplos de dicas valiosas que os leitores vão encontrar no seu livro. No livro “CANCER, o poder da alimentação na prevenção e tratamento”, abordamos os principais fatores que podem levar à doença e porquê. Explicamos o que são nutrientes, como agem e porque são benéficos. Mostramos também quais alimentos são mais ricos nos nutrientes favoráveis à prevenção do câncer, apresentando tabelas e valores necessários. Por fim sugerimos uma dieta de 28 dias, com as seis refeições diárias. São mais de 400 receitas. Resumindo, achamos importante apresentar, ao público interessado, o que faz mal, o que faz bem, os porquês, e como utilizar alimentos que fazem bem. E-mail de contato com a autora:
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