Quais são os argumentos contra a experimentação animal?
Os argumentos contra a experimentação animal são múltiplos e éticos, refutando as justificativas comuns para essa prática.
- Falha do argumento da necessidade: A experimentação animal não é imprescindível para a pesquisa científica. Existem diversos métodos alternativos (modelos inanimados e computadorizados, culturas de células e tecidos, estudos epidemiológicos). Mesmo que em alguns contextos não houvesse substituto direto, isso não justificaria automaticamente o uso de animais, assim como não justificaria sequestrar e matar humanos para pesquisa. O "fim" (pesquisa) não justifica qualquer "meio" se este causa dano severo.
- Falha do argumento da eficácia:
- Comparação de Eficácia: A alegação de que métodos com animais são mais eficazes é questionável, pois há investimento mínimo em pesquisas sem animais. Se houvesse financiamento comparável, os métodos alternativos poderiam ser igualmente ou mais eficazes.
- Implicação Inaceitável: Se a eficácia fosse o critério fundamental, seria mais eficaz testar diretamente em humanos, já que eliminaria problemas de extrapolação de dados entre espécies. No entanto, a maioria das pessoas considera isso moralmente inaceitável, evidenciando um duplo padrão moral.
- Duplo padrão moral (especismo): A experimentação animal se baseia em um duplo padrão: usa animais alegando que são fisiologicamente "como nós" (para validar resultados) e que é moralmente aceitável por "não serem como nós" nas propriedades moralmente relevantes. No entanto, a capacidade de sentir e sofrer é a propriedade moralmente relevante, e animais sencientes são tão capazes de sofrer quanto humanos. Dar maior peso aos interesses humanos, mesmo que triviais, em detrimento do sofrimento extremo de animais é uma violação flagrante da igual consideração e imparcialidade.
- Falha do kantianismo para humanos e utilitarismo para não humanos: A ideia de aplicar princípios kantianos (proibindo o uso como meros meios) a humanos e utilitaristas (maximizando o bem-estar agregado) a animais é incoerente. Se o utilitarismo fosse aplicado aos animais, a soma do sofrimento de mais de 100 milhões de animais usados anualmente superaria amplamente os benefícios humanos. Além disso, essa abordagem não justifica por que a autonomia (muitas vezes usada como justificativa) seria o único critério para proteção, ignorando a senciência de outros seres (incluindo crianças e humanos com deficiências cognitivas que não possuem autonomia, mas são protegidos).
Em suma, o problema ético da experimentação animal não é uma contradição lógica, mas a injustificável distinção moral entre seres sencientes baseada em sua espécie, resultando em sofrimento desnecessário para bilhões de animais.

Fonte: COLEÇÃO UMA JORNADA PELA ÉTICA ANIMAL DO BÁSICO AO AVANÇADO VOLUME 4
Este livro, "O Debate Sobre a Exploração Animal" de Luciano Carlos Cunha, Volume IV da coleção "Uma Jornada pela Ética Animal: Do Básico ao Avançado", oferece uma análise aprofundada da exploração animal por humanos. A obra detalha as condições de vida e morte de animais explorados para consumo, como galinhas, porcos, vacas e uma vasta gama de animais aquáticos e insetos, submetidos a sofrimento intenso e mutilações sem anestesia. Além de descrever a realidade da exploração, o autor examina criticamente os argumentos que buscam justificar essas práticas, desafiando noções como a superioridade humana, a cadeia alimentar, o instinto, a superpopulação e a ideia de que o consumo animal seria necessário para a continuidade de certas espécies, enquanto defende a senciência de todos os animais como a base para sua consideração moral.
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