Se você quer saborear as surpresas da vida, não deixe seu co(r)po encher...
“Como colocar água em um copo que já está cheio?”, questiona o patriarca guerreiro numa das belas cenas do filme Avatar. “Meu copo está vazio”, responde Jake Sully. O fusileiro naval alienígena – que acaba se tornando um nativo exemplar – comprova a afirmação ao beber, com fascínio e amor, toda a sabedoria desse povo de Pandora. Essa corajosa disposição para o novo é coisa rara. Desde o nascimento, vamos sendo moldados, incorporando hábitos, costumes e tradições. Logo, decretamos: “gosto disso, não gosto daquilo”. E se um dia você comeu algo com muita pimenta-do-reino e não aprovou, elimina não apenas aquela, como todas as pimentas, perdendo assim a oportunidade de conhecer o calor da malagueta, a sutileza da pimenta de biquinho e o sabor doce e perfumado da pimenta rosa.
O mesmo vale para a soja, o tofu e outros ingredientes típicos da culinária vegetariana. Não deixe, pois, uma primeira mordida ou uma mera olhadela determinar seus conceitos. E evite comparar a chamada “carne de soja” com uma picanha; ou um pedaço de tofu com um naco de queijo minas. Em vez de torcer o nariz, que tal simplesmente esvaziar seu copo?
Sim, dá para fazer maravilhas sem leite moça, sem bacon, sem manteiga, carnes e quetais. Duvida? Pois o guerreiro-mor, pretendente da bela Neytiri, também não colocou a menor fé na entrega e disposição de “Jakesully”, e se deu mal!
Há outra relação entre Avatar e vegetarianismo: a conexão entre os homens e os animais. Tanto os seres alados como os cavalos aceitam ser comandados; e os corpos se tocam sem cela, sem arreio, sem espora. Já as caças são abatidas com o máximo de respeito e gratidão. Mundo ideal, preso num futuro distante? Não. Em Dança com Lobos, o ex-soldado sorvia experiências parecidas na terra habitada pelo povo Sioux. Resgatar esse e outros valores de culturas mais conectadas à Terra (sejam primitivas, remotas ou simplesmente alternativas), é um dos alicerces para a construção de um mundo melhor. Ainda vejo uma terceira ponte no filme para valorizar o vegetarianismo: a exuberân cia da natureza. Em imagens oníricas, as sementes da imponente árvore sagrada lembravam caravelas (águas vivas); as intensas cores dos corais pareciam inspirar a flora; vaga-lumes, plânctons e outros seres luminosos (e iluminados!) desenhavam a noite mágica da floresta... Ou seja, as belezas alienígenas da ficção nasceram de uma realidade terrestre igualmente fantástica. Ou alguém questiona que nosso planeta abrigue seres em formas e cores que superam as mentes mais imaginativas? Espere aí, mas o que isso tem a ver com vegetarianismo?
Simples: quem não come carne bovina, não compactua com a destruição de florestas para abertura de pastos. Quem não come peixe, ajuda a proteger a vida nos mares e mangues. Quem não come aves e suínos colabora para manter limpos os lençóis freáticos. Na verdade, a beleza suprema está entre nós, permeando toda a natureza, mas destruímos tudo antes mesmo de conhecer, como alertou a cientista terráquea Grace, diante de um militar sarcástico e um arrogante empresário.
Enfim, vegetarianismo não significa apenas cortar a carne – e vai além do abrir os olhos para um mundo de novos sabores e possibilidades gastronômicas. Porque o vegetarianismo não é apenas uma dieta alimentar, mas sim um estilo de vida que busca a harmonização planetária. Dieta vegetariana vem de mãos dadas com a não-violência, a rejeição do especismo, o reconhecimento dos Direitos da Terra e um pensamento onde o “penso, logo existo” não dá direito a tratar todos os demais seres viventes como “coisas”.
Fonte: www.ihu.unisinos.br
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